Trabalho x moral

Tratando uma visitante indesejada: A angústia

*Por José Renato.

Tratando uma visitante indesejada, a Angústia
“Peito apertado, sufocamento, insegurança, ansiedade, pouco humor, silêncio e tantas outras coisas vieram me visitar” (Crédito: Pixabay)

Peito Apertado, Sufocamento, Insegurança, Ansiedade, Pouco Humor, Silêncio, estas costumam ser algumas das características presentes às pessoas que se sentem abraçadas pela angústia. Algo difícil de explicar com palavras, mas muito intensa. Algumas situações podem nos levar a crer que ela nos domina plenamente. Momentos de baixa estima acabam por intensificá-la e muitos acabamos por nos acostumar com ela. Daí em diante o processo pode proporcionar coisas ainda mais preocupantes, a perpetuação de sentimento de tristeza e perda de interesse em viver são ‘apenas’ algumas delas. Parece que sempre a algo pior por vir, a depressão é apenas mais uma.

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Alguns anos atrás, quando ainda atuava em uma grande empresa nacional, à medida que crescia profissionalmente na estrutura hierárquica, passei a notar de maneira mais evidente a forma como as ‘coisas aconteciam’. A ignorância, muitas vezes é uma benção, mas também tem o dom de iludir. Em reunião com certo governador de estado, que acabara de conhecer, fui informado que a minha empresa iria desenvolver um projeto em sua cidade. Ansioso e surpreso, respondi que iríamos preparar uma boa proposta técnica e comercial para participarmos do processo licitatório. Quase que de forma imediata, ele me interrompeu: “…O Sr. não me entendeu, estou te afirmando que vocês irão desenvolvê-lo. O valor que irá nos cobrar é de R$ X milhões…” Boquiaberto e, agora, assustado, bobamente o respondi: “Como assim?…”. Com uma voz já impaciente, ele arrematou: “O projeto é de vocês por R$ X milhões, o que vocês vão fazer, ou não, pouco me importa, só sei que metade deste valor deverá ser repassado para a empresa Y. Estamos conversados?” Pálido, acenei positivamente com a cabeça e me despedi.

O trajeto de volta ao hotel foi silencioso. As ondas da praia pareciam remoer dentro da minha cabeça. Não quis jantar. Tão logo cheguei ao meu quarto, meu chefe me ligou e perguntou: “Foi tudo bem lá?”. Confesso que não sabia o que responder. Me limitei a desligar o aparelho, afinal eram tempos quando as ligações de celular nem sempre se completavam. A noite foi difícil. Em minha cabeça só aparecia a forma covarde como não tinha ‘enquadrado’ o tal governador. Logo cedo, parti de volta para São Paulo e tão logo cheguei ao meu escritório, relatei ao meu chefe sobre o fato ocorrido. Quase de imediato, ele me perguntou: “… e você já preparou a proposta para encaminhá-lo?”. Os meus inocentes argumentos sobre o que ocorrera pareceram ecoar no vácuo.

Ao final, ainda precisei ouvir: ‘Não quero mais saber o que você acha sobre isso, pois são assim que as coisas funcionam. Se você não está preparado para isso, lamento.”

Peito apertado, sufocamento, insegurança, ansiedade, pouco humor, silêncio e tantas outras coisas vieram me visitar. O choro incontido sempre que sozinho, desaparecia na presença de qualquer pessoa. Pela primeira vez, fui levado a um espaço espírita, algo até então visto como uma afronta a toda minha formação católica. Fui à Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde recebi um inusitado diagnóstico. Estava em um processo de obsessão, algo que acontece quando certos espíritos negativos aproveitam de situações que nos enfraquecem e nos ‘puxam’ ainda mais para baixo. Também fui a um psiquiatra, que me receitou, durante meses, um medicamento com tarja preta que de certa maneira, me anestesiava. O colo e a atenção das pessoas que me amavam também foram muitos e intensos durante todo o processo de recuperação. Mas coube a mim, o maior desafio. Precisei reforçar os laços com meus valores e crenças, para aí sim, ter a convicção que tudo vivido até ali teria valido a pena e que seriam perpetuados em meu futuro.

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Foi assim que começou a minha vida como profissional liberal. Já são 10 anos. Impossível negar que, às vezes, a angústia ainda venha me visitar. Mas a forma como eu a recebo tende a ser bem diferente. Ela jamais é bem recebida, diante disso, será uma visitante de curtíssimo tempo. Vivo em um vigilante processo de evolução para sequer bisbilhotar a sua possível chegada, afinal manter a porta fechada para ela é a melhor solução. A convicção em saber que o bem sempre vence tem um efeito perpétuo e nos permite ver o futuro com a certeza que o melhor sempre estará por vir.

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