POVOS ISOLADOS

Viúva diz que morte de Bruno é marco na luta pelos direitos indígenas

Beatriz Matos enfatizou a necessidade de a sociedade brasileira conhecer melhor o trabalho dos indigenistas para compreender a importância dos povos indígenas

Beatriz Matos enfatizou a necessidade de conhecer melhor o trabalho dos indigenistas para compreender a importância dos povos indígenas.
Viúva diz que morte de Bruno é marco na luta pelos direitos indígenas – Créditos: Antônio Cruz/ Agência Brasil

Em entrevista à TV Brasil, Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, enfatizou a necessidade de a sociedade brasileira conhecer melhor o trabalho dos indigenistas para compreender a importância dos povos indígenas, especialmente os isolados e de recente contato, na proteção da floresta e da biodiversidade brasileira. Bruno Pereira foi assassinado há dois anos, em 5 de junho, junto com o jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, na Amazônia.

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A dupla foi vista pela última vez na manhã de 5 de junho de 2022. Seus corpos foram encontrados apenas em 15 de junho, quando a polícia já havia detido ao menos cinco suspeitos de envolvimento no crime.

Beatriz relatou o sofrimento da família com a falta de informações durante os dias de desaparecimento. “Eles ficaram desaparecidos por 10 dias, e foi uma insegurança muito grande porque não tínhamos confiança em quem deveria estar buscando as vítimas e apoiando as famílias; não tivemos esse apoio”, disse.

Como diretora de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Beatriz vê a morte de Bruno e Dom como um marco na luta pelos direitos indígenas e pela preservação ambiental. Ela destacou que, em 2023, com a mudança de governo, surgiu “uma esperança renovada” tanto para a proteção dos povos da região quanto para a reparação às famílias das vítimas.

No início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Beatriz foi convidada para trabalhar no MPI, na mesma área em que seu marido atuava. Ela descreveu esse período como difícil, mas também de reconstrução familiar e profissional, visando estancar a política de sucateamento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e resgatar o trabalho de Bruno.

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Povos indígenas isolados

Beatriz destacou a importância de corrigir a falsa ideia de que os povos isolados nunca tiveram contato com não indígenas. Segundo ela, esses povos geralmente optaram por isolar-se devido a experiências traumáticas, como violência e doenças. Nos anos 1980, o Estado brasileiro começou a respeitar essa decisão, garantindo a segurança dos territórios ocupados por esses povos, uma medida que surgiu com a redemocratização do país e após as frentes expansionistas da ditadura civil-militar na década de 1970.

Todo o processo de contato forçado é marcado por traumas, violências e questões imunológicas. Muitos povos foram dizimados com a expansão da ocupação da Amazônia na década de 70. Foi reconhecido que esse contato forçado era extremamente violento, limitando a mobilidade e a forma de vida dos povos indígenas”, explicou Beatriz.

A política brasileira passou a respeitar o direito à recusa ao contato, protegendo os territórios tradicionais desses povos através de estudos realizados por especialistas da Funai, sem necessariamente estabelecer contato.

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Dados da Funai de 2021 indicam 114 registros de presença de índios isolados em toda a Amazônia Legal. A Funai coordena e apoia ações de proteção e promoção em 19 terras indígenas habitadas por grupos de recente contato, como os Zo’é, Awá Guajá, Avá Canoeiro, Akun’tsu, Canôe, Piripkura, Arara da TI Cachoeira Seca, Araweté, Suruwahá e Yanomami, entre outros.

Beatriz esclareceu que a política de proteção inclui a restrição de uso de determinados territórios, com entrada permitida apenas para especialistas. Um exemplo é a Terra Indígena do Vale do Javari, onde Bruno e Dom foram assassinados. A demarcação da área levou em conta a presença de povos isolados, permitindo sua mobilidade e proteção, com apoio dos povos indígenas não isolados que conhecem e respeitam esses territórios.

Os interflúvios, regiões entre as calhas dos rios, são territórios de ocupação dos isolados. A área contínua demarcada permite a mobilidade desses povos e é protegida pelos indígenas não isolados que conhecem e respeitam esses territórios”, concluiu Beatriz.

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