
No último mês, um estudo microbiológico revelou que os fungos estão passando por período de evolução, se tornando mais adeptos a infectar humanos. A pesquisa entende que o fenômeno pode estar ligado às mudanças climáticas.
O estudo, publicado na revista Nature Microbiology, demonstra que a elevação das temperaturas globais pode estar facilitando mutações em fungos, tornando-os não apenas mais resistentes a tratamentos antifúngicos, mas também mais capazes de infectar hospedeiros humanos. A equipe de pesquisa analisou dados provenientes de 98 hospitais na China entre 2009 e 2019, identificando casos de infecções causadas por fungos previamente desconhecidos em humanos.
Normalmente, espécies de fungos não são capazes de sobreviver à temperatura do corpo humano e da maioria dos mamíferos – por volta dos 37°C. Porém, o que os cientistas descobriram foi que espécies de fungos R. fluvialis e R. nylandii começaram a tolerar temperaturas mais altas, tendo infectado inclusive dois homens. O calor, inclusive, acabou criando um ambiente mais propício para mutações, o que acabou tornando os fungos mais resistentes aos remédios.
Jatin Vyas, médico especialista em fungos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirma que esta é uma preocupação iminente, pois pode resultar em graves surtos de doenças num futuro não tão distante. “Podemos ver um cenário apocalíptico. Não vai ser como a série The Last of Us, mas significa que novos fungos podem causar doenças infecciosas graves. E temos muito poucos medicamentos para ajudar”, disse em entrevista ao Deutsche Welle.
Na série citada pelo médico, o mundo entra em um estado apocalíptico ao ser dominado por uma doença contagiosa, em que os contaminados passam por estágios e acabam se tornando monstros cobertos por fungos. Veja:
os Baiacus (ou Bloaters) levaram anos pra chegar nesse estágio avançado. São lentos e cegos, mas extremamente fortes e resistentes. São cobertos por fungos bem espessos que agem como blindagem. pic.twitter.com/DUegVk2qJA
— Portal The Last of Us (@PortalTLOU) February 8, 2023
O impacto do aquecimento global é atribuído por pesquisadores devido à exposição dos fungos a uma temperatura mais elevada com maior frequência, forçando uma adaptação. “Essa é uma conclusão indireta derivada das observações de que a tolerância ao calor é uma virulência conhecida“, afirmou Toni Gabaldón, biólogo evolucionário do Instituto de Pesquisa em Biomedicina de Barcelona, na Espanha.
O que o estudo diz sobre o futuro dos fungos?
A pesquisa destaca uma necessidade de expandir o arsenal de medicamentos antifúngicos. Atualmente, contamos com um número limitado de medicamentos eficazes, e o desenvolvimento de novos tratamentos é desafiador, considerando que os fungos são organismos eucarióticos, semelhantes aos mamíferos, podendo gerar efeitos adversos nos humanos.
Atualmente, infecções fúngicas causam cerca de 2,5 milhões de mortes por ano em todo o mundo, e o número tende a crescer caso os microrganismos se tornem resistentes aos medicamentos. Os fungos resistentes já foram observados no Canadá, Portugal e Espanha e, de acordo com Vyas, a probabilidade de que se espalhem pelo mundo é alta.
Para ele, no entanto, pesquisas como estas são necessárias para a preparação da comunidade científica, auxiliando no desenvolvimento de medidas preventivas. “Estamos começando a entender como os fungos estão se adaptando a partir desses casos raros, como na China. Assim, poderemos encontrar mecanismos para nos proteger no futuro.”
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