Veja a história

Formados em Letras, irmãos cegos dão aula na mesma escola no Paraná

Os irmãos André e Anderson concluíram curso de Letras na Universidade Estadual de Londrina e hoje realizam sonho de atuar como professores

Formados em Letras, irmãos cegos dão aula na mesma escola no Paraná
(Crédito: Reprodução/G1 / Bons Fluidos)

A deficiência visual foi motivo, sim, para que os irmãos André e Anderson Rodrigues pensassem que o futuro poderia não corresponder com suas expectativas. Exemplo de determinação, eles hoje provam que tudo é uma questão de foco, esforço e tentativas. Deu certo! Formados em Letras, hoje eles ministram aulas na mesma escola em Londrina, Paraná.

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História dos irmãos

André e Anderson nasceram com glaucoma, ou seja, uma pressão interna nos olhos e alteração irregular no fluxo sanguíneo do órgão, o que, como no caso dos irmãos, pode levar à cegueira. Respectivamente, perderam a visão aos 5 e 7 anos. Persistentes, concluíram o curso de Letras com Licenciatura em Português na Universidade Estadual de Londrina (UEL), André em 2021 e Anderson em 2022.

“Eu quis ser tanta coisa. Me inscrevi para Jornalismo, mas não passei. Resolvi fazer Letras por causa do André, que queria isso desde o começo. Eu percebia que havia material em braile para ele, que eram bens didáticos, e fui junto. Ele me influenciou”, revelou Anderson ao portal de notícias G1.

As aulas na faculdade e trabalhos acadêmicos não foram dos mais fáceis. Porém, além da ajuda dos colegas de sala, professores e familiares, André e Anderson receberam apoio do Núcleo de Acessibilidade (NAC) da Universidade Estadual de Londrina, que garantiu aos irmãos a adaptação dos materiais usados durante as aulas.

Alunos viraram professores

Mediante Processo Seletivo Simplificado (PSS), André e Anderson foram escolhidos para ministrar aulas de português e redação no Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, que conta com 1359 alunos, e se localiza na Zona Norte da cidade de Londrina. Ali, trabalham há mais de um ano.

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“Tínhamos medo de não dar certo, de não conseguir por não enxergar. Na sala de aula a gente mexe com o futuro das pessoas e dava um frio na barriga se seríamos capazes de ensinar o mínimo, se iam nos entender, nos compreender”, disse Anderson, relembrando o início do ofício como professor. Atualmente, ambos cumprem 40 horas semanas, o máximo que um docente pode atingir no Paraná.

“No começo a gente se virava sozinho para mexer nas plataformas do governo e dar as aulas. Alguns alunos não respeitavam, saíam no meio da aula. Era algo novo para eles e para nós, mas a situação mudou bastante. Eu estudei em escola pública e sei das dificuldades que eles enfrentam, mas consegui superar esses obstáculos”, disse André ao G1.

Para ajudar ainda mais André e Anderson, a diretoria da escola providenciou dois assistentes administrativos para os irmãos, que os ajudam, por exemplo, em sala de aula, no controle dos alunos, e em atividades mais burocráticas, como lançar as notas no sistema do colégio.

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Os planos

Realizados com o que conquistaram até agora, os irmãos pretendem ir ainda mais longe. André iniciou um mestrado em Literatura na Universidade Estadual de Londrina, mesma instituição de ensino em que concluiu a graduação, e Anderson pretende seguir a carreira de professor e, futuramente, prestar um concurso público na área.

“Quero passar para eles [alunos] que eu consegui meus objetivos, mas tive que tentar. Quero mostrar que a gente pode vencer na vida, mas tem que ter a coragem de tentar. Não pode ter medo”, finalizou André.

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