Ao som de músicas de funk com letras explícitas, um post no TikTok mostra uma brasileira de 11 anos sorrindo para a câmera. No Instagram, a trilha sonora da foto de outra menina de 9 anos é semelhante. Essa é a dinâmica do desafio “Se garante na beleza?”, que tem se tornado uma tendência preocupante entre crianças nas redes sociais.
Doze perfis dedicados exclusivamente a esse desafio movimentam diariamente o ambiente virtual. Nos comentários, outras crianças e pré-adolescentes imploram para também aparecer nessas páginas: “Me escolhe, me escolhe!”.
Desafio “Se Garante na Beleza?”: como funciona
O desafio “Se garante na beleza?” envolve a participação de crianças de 8 a 13 anos, que procuram contas específicas nas redes sociais para ter suas fotos divulgadas. O interessado envia uma mensagem privada ao administrador da página, passando por um período de ansiedade até ser escolhido. Se selecionado, ele deve fornecer seu nome, idade e uma foto ou vídeo, que serão postados para centenas ou milhares de seguidores.
Normalmente, quem reposta a imagem ainda acrescenta um áudio de funk com letras maliciosas e palavrões. Em alguns casos, perguntas inadequadas, como se a criança da foto é solteira, também são incluídas. Todos esses dados tornam-se públicos, disponíveis para qualquer pessoa com acesso à internet.
Riscos da exposição
De acordo com Humberto Sandman, professor de Sistemas de Informação da ESPM e especialista em cibersegurança, ao G1, a exposição de menores de idade sem o consentimento dos pais é extremamente perigosa. Ele destaca que as gerações mais novas não têm plena compreensão dos riscos associados à privacidade online.
A pesquisadora Andréa Jotta, especialista da PUC-SP em comportamentos relacionados à saúde mental no uso de tecnologias, explica ao G1 que a autoestima das crianças e pré-adolescentes está cada vez mais associada às redes sociais. Vários comentários elogiosos e muitos seguidores são o que essas crianças buscam ao participar do desafio “Se garante na beleza?”
Os pais, muitas vezes, sem perceber, contribuem para essa necessidade ao postarem fotos e vídeos dos filhos desde cedo. As crianças crescem dependentes da internet e dos “likes”. O que começou como uma simples brincadeira de escola, tomou proporções maiores e se transformou em um fenômeno preocupante.