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Filme sobre tatuador Jonathan Shaw vai além de ‘relações com celebridades’, diz diretora

O artista fundou a loja de tatuagem mais antiga do lugar onde nasceu — Nova York —, a Fun City Tattoo

A 25ª edição do Festival do Rio começou no dia 5 de outubro e termina no próximo domingo, 15. Filmes como Priscilla e Pobres Criaturas estão incluídos na programação do evento. Já com a bandeira do Brasil, Meu Nome É Gal faz parte dos destaques do festival, ao lado de Jonathan Saw: A Tatuagem Vira Arte.

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Mariana Thomé e Lucas de Barros foram responsáveis por contar parte da vida de Jonathan Shaw, importante tatuador norte-americano que divide histórias com Nova York, Rio de Janeiro (onde mora) e diversas celebridades. As peles de Johnny Depp, Iggy Pop e Kate Moss, por exemplo, fazem parte de seu currículo.

O artista fundou a loja de tatuagem mais antiga do lugar onde nasceu — Nova York —, a Fun City Tattoo. Além disso, Shaw criou a International Tattoo Art, primeira revista dedicada exclusivamente a tatuagem, e contou com a ajuda de Depp, Iggy Pop e Jim Jarmusch para organizar o Death Is Certain Club. Depois que se aposentou, ele ainda escreveu livros como Narcisa: Nossa Senhora das Cinzas (2008) e Scab Vendor: Confessions of a Tattoo Artist (2017).

Leia sinopse do documentário:

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Nascido em berço de ouro, filho do jazzista Artie Shaw e da estrela de Hollywood Doris Dowling, Jonathan Shaw teve a adolescência marcada pela revolta contra a vida glamorosa dos pais e a extrema aversão ao alcoolismo da mãe. Após quase morrer por overdose de heroína, pedir carona de Los Angeles ao Rio de Janeiro e aprender com os melhores tatuadores old school da América, Jonathan se tornou o tatuador mais cobiçado de Nova York. Seu Fun City Tattoo Studio abriu em 1993, quatro anos antes da tatuagem ser legalizada em Manhattan.

Quem é Mariana Thomé

Após desenvolver projetos para produtoras como Conspiração Filmes, Amazon, Cine Latina Estúdio e Anonymous Content, Thomé trabalha atualmente em uma série de terror adolescente ao lado de Jotagá Crema, roteirista de 3%.

“No mundo dos documentários, fui chamada para co-dirigir junto do diretor Diogo Marques um longa-metragem documental sobre o grande fotógrafo do rock’n’roll brasileiro, Rui Mendes, que se encontra em pré-produção. Isso sem contar os projetos de esfera independente que desenvolvo com a minha empresa aqui em Santa Catarina, disse Mariana em nota enviada à imprensa.

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As portas do cinema foram abertas para a diretora depois que ela desistiu de uma graduação em História. Chegou a produzir as filmagens do show de verão de Gerard Way, do My Chemical Romance, e ganhou competição para criar um comercial para a NASA, além de gravar videoclipes.

A ideia de fazer o documentário surgiu assim que Thomé conheceu seu personagem, quando pretendia fazer um vídeo sobre o lançamento da nova edição de Narcisa: Nossa Senhora das Cinzas: “Quando eu cheguei no prédio art decó em Hollywood, onde Jonathan mora numa cobertura, me deparei com um homem de óculos translúcido azul, vestido com roupas rasgadas, com 20 correntes prateadas no pescoço, coberto de tatuagens e fumando um vape sem parar,” contou.

“Se você acha que essa imagem já está esquisita – peculiar – imagina a minha reação quando ele olhou para a minha cara e passou a falar em um português perfeito, cheio de gírias? Foi assim que eu soube que ali tinha um personagem definitivamente além das ‘fotos com famosos’ que você encontra quando digita seu nome no Google.”

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Mariana Thomé no Festival do Rio (Foto: Divulgação)
Mariana Thomé no Festival do Rio (Foto: Divulgação)

Jonathan Saw: A Tatuagem Vira Arte começou a ser filmado em 2016, sobreviveu à pandemia e será exibido nesta quarta-feira, 11, na programação do Festival do Rio. A sessão contará com a presença do próprio Jonathan Shaw. O filme chegará como VOD (vídeo sob demanda) nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2024.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Mariana Thomé contou como o documentário sobre Jonathan Shaw foi feito a partir de sua relação com o tatuador. Confira:

Rolling Stone Brasil: Você acredita que tornou o documentário “mais brasileiro” ao incluir o Rio de Janeiro na narrativa? Por quê?
Mariana Thomé: Com certeza! O Rio de Janeiro é peça chave no documentário para entender o personagem Jonathan Shaw, e ver um filme sobre um americano, por mais que ele explique a conexão do personagem com o país, vê-lo em sua casa em Santa Teresa, cercado de ‘São Jorges’, com sua bandeira de pirata hasteada na cobertura, faz tudo ser bem mais brasileiro.

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Rolling Stone Brasil: Como sua relação com Jonathan Shaw se estreitou tanto a ponto dele compartilhar a vida dele em um documentário?
Mariana Thomé: O Jonathan é um personagem. Quando conheci ele, por meio do co-diretor Lucas, ele estava lançando a segunda edição do livro Narcisa, e Lucas comentou comigo que achava que tinha uma história naquele autor. Logo de cara eu sabia que tínhamos que fazer um documentário acontecer a respeito do Jonathan, mas algo que fosse além de suas relações com celebridades e mil anedotas e encontrasse um tema chave que faz ele ser quem ele é — e no processo de pesquisa, facilitado pelos milhares de baús de arquivo de Jonathan — encontramos.

Rolling Stone Brasil: Você contou algumas dificuldades que enfrentou ao longo do percurso da produção do documentário — como pandemia e autorização para usar algumas músicas. Houve limites pessoais difíceis de serem ultrapassados, conflitos de ideias, ou qualquer outro obstáculo do gênero?
Mariana Thomé: Com certeza, fazer um documentário biográfico de uma pessoa ainda viva é algo extremamente trabalhoso, ao mesmo tempo que você tem que se manter firme à sua obra autoral, você tem que aprender a lidar com o personagem com quem se trabalha, sua própria vida e obra. Além disso, existe a ansiedade em ver um produto que está constantemente sendo alterado, especialmente em sala de montagem, com “work-in-progress”, em momentos onde nós, cineastas, sabemos o quão cru a obra está, mas, muitas vezes, as pessoas não são capazes de compreender que aquilo é só um rascunho que está sendo criado.

Rolling Stone Brasil: Sente que houve mudanças ao longo dos anos nos quais o documentário foi feito que alteraram os rumos da produção?
Mariana Thomé: Com certeza conseguir uma produtora atrelada ao filme foi algo que aumentou a nossa verba de produção e consequentemente abriu um leque de oportunidades criativas para o filme. A possibilidade de encaixar animação e motion graphics ao documentário foi algo que expandiu a narrativa, nos dando chance de brincar com momentos da vida do Jonathan que não estão capturados em imagens de arquivo, e criar uma linguagem estética para o filme para além dos arquivos.

Rolling Stone Brasil: Como foi o processo de organização de tanto material?
Mariana Thomé: Meses árduos de pesquisa na casa do Jonathan em Los Angeles, onde eu passava no mínimo três horas por dia, três vezes por semana, abrindo baús que ele deixava na sala de estar para mim. Esse processo durou em torno de seis meses. Era abrir, distinguir o que era mera acumulação (cartões de encanadores, caderno de rabiscos) com reais joias de arquivo, como cartas que seu pai trocava com sua mãe, escritas em bloquinhos do Hotel Savoy, em Londres. Eu primeiro selecionava, registrava em fotos de alta qualidade e catalogava em planilhas, demarcando o que era aquela peça de arquivo. Ao total, foram mais de 2 mil arquivos catalogados por mim.

Rolling Stone Brasil: O tema do documentário te era familiar de alguma forma?
Mariana Thomé: Eu sempre brinco que parece que passei a minha adolescência me preparando para esse documentário. Muitas partes da vida de Jonathan — como sua relação com a contracultura dos anos 60, seu fascínio com o caso de Charles Manson, e sua amizade com os quadrinistas de comics underground de São Francisco — sempre foram tópicos que me interessavam muito. Eu até levava sustos divertidos quando descobria que, por exemplo, seu grande amigo Joe Coleman é o escritor e ilustrador do quadrinho de bolso Sangue Ruim, que eu tinha na minha estante aos 16 anos. Então essa fascinação pela época que o Jonathan fez parte de tão perto sempre foi algo presente em mim.

Rolling Stone Brasil: Como se sentiu ao lidar com celebridades tão grandes?
Mariana Thomé: Olha, no começo bem nervosa. Imagine que a primeira entrevista que eu gravei para o documentário e na minha vida foi com o Iggy Pop em Cannes! Ao mesmo tempo, me senti muito preparada, pois realmente fiz questão de realizar intensas pesquisas tanto com o Jonathan, quanto por mim mesma, traçando a relação do personagem com tais celebridades por meio de arquivos e conversas. Foi assim que consegui ouvir historias que até mesmo Jonathan já havia esquecido, e que creio que consegui estabelecer uma boa relação como diretora e entrevistadora com eles.

Entrevista com Iggy Pop (Foto: Divulgação)
Entrevista com Iggy Pop (Foto: Divulgação)

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