Aos 23 anos, Zaya Guarani se destaca como o principal nome brasileiro de origem indígena na moda internacional. Nascida em Rondônia, ela é descendente dos povos Kamurape e Guarani Mbya. A modelo cresceu no Amazonas enfrentando a constante ameaça de desmatamento e exploração de recursos naturais. Acima de tudo, sua trajetória é marcada pelo ativismo e pela busca por maior representação indígena na moda e no cinema.
Zaya iniciou sua carreira como modelo aos 17 anos, após se mudar para São Paulo. Ao passo que ela foi contratada pela agência Ford, tornou-se o primeiro rosto indígena da empresa. Desde então, estrelou editoriais de moda para a Vogue de diferentes países e campanhas para marcas como Ugg e Bottletop. Recentemente, foi eleita influenciadora do ano pelo Latin American Awards 2024.
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Representatividade em Hollywood
Agora, Zaya se prepara para um novo desafio: o cinema. Ela atuará no longa-metragem “The Last of the Tribe“, dirigido por Fernando Meirelles e estrelado por Ethan Hawke. O filme, ambientado na Amazônia, conta a história de um policial corrupto que se torna assassino de aluguel e recebe a missão de matar o último sobrevivente de uma tribo indígena sem contato com a civilização.
“Quando recebi o roteiro de The Last of the Tribe, fiquei impressionada com a proximidade com a minha própria jornada, pois cresci vendo muitos territórios ao meu redor sendo constantemente ameaçados e destruídos pela loucura humana”, disse em entrevista à Vogue Brasil. “Como atriz indígena, sinto um profundo dever em compartilhar com o mundo o que nosso povo ainda está passando… e estou extremamente honrada por ter a oportunidade de trabalhar com esse incrível grupo de pessoas”, completou
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Zaya utiliza sua visibilidade para o ativismo
Além da moda e do cinema, Zaya é primordialmente uma voz ativa na luta pelos direitos dos povos indígenas. Em 2020, fundou o Coletivo Indígenas Moda BR com a estilista Dayana Molina. O coletivo é uma plataforma que debate e expõe o racismo e a falta de inclusão na indústria da moda.
A trajetória de Zaya é profundamente influenciada por sua avó, uma ativista pelos direitos dos povos indígenas. Assim, família de Zaya precisou migrar diversas vezes devido à exploração madeireira e de minérios na Amazônia. Nesse sentido, aos 16 anos, ela deixou a região para completar o ensino médio no Rio de Janeiro, onde trabalhou como faxineira em troca de moradia. Posteriormente, em São Paulo, começou a carreira de modelo, enfrentando preconceitos e lutando pela inclusão indígena na indústria.
“Ao longo da minha trajetória, fui questionada sobre ser indígena e ser modelo. Isso me fez voltar ao passado e pensar: este é o grande problema. As pessoas não conseguem nos imaginar em diferentes contextos”, contou novamente à Vogue Brasil.
Com um crescente reconhecimento internacional, Zaya usa sua visibilidade para promover mudanças significativas. Ela acredita que a moda pode ser uma ferramenta de transformação social e ambiental. Sendo assim, seu sonho é abrir portas para outros indígenas realizarem seus sonhos e garantir que as histórias e identidades reais sejam representadas na mídia.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini