ÍCONE DO RAP

Sabotage: uma tradição negra na canção popular brasileira

Pesquisa de mestrado da USP estudou canções do rapper Sabotage que retratam cotidiano da população negra e periférica de São Paulo; O rapper e mc Max B.O. fala da parceria com o artista em Cocaína

Pesquisa de mestrado da USP estudou canções do rapper Sabotage que retratam cotidiano da população negra e periférica de São Paulo.
Rapper foi sucesso nos anos 2000 – Créditos: Divulgação

Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage, foi um rapper da zona sul de São Paulo que ganhou destaque no começo dos anos 2000. Considerado um dos maiores representantes do rap nacional, Sabotage foi assassinado com quatro tiros no dia 24 de janeiro de 2003.

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Apesar do curto tempo sob os holofotes, Sabotage se destacou o suficiente para ser influente na cultura hip-hop até hoje. O  “Maestro do Canão”, como era chamado, lançou no ano de 2000 seu único álbum de estúdio, intitulado O rap é compromisso. Sucesso em todo o país, o álbum é considerado um clássico do rap nacional.

Como homem negro e morador da periferia de uma metrópole como São Paulo, Sabotage retratava em suas músicas a vivência de boa parte da população brasileira, e é sobre isso que se propôs a estudar Thiago Carvalho na sua dissertação de mestrado Sabotage: Lírica negra e periférica, realizada no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. Em sua pesquisa, Carvalho buscou entender o que fez as composições de Sabotage serem tão influentes, apesar do pequeno período de exposição na grande mídia brasileira.

A dissertação é a única pesquisa do banco de teses e dissertações da USP que estuda o artista. Ela conclui que não apenas as músicas de Sabotage, mas o rap nacional no geral são uma expressão afrodiaspórica brasileira.

“O Sabotage tem um um peso social e histórico no rap e na canção brasileira, de um modo geral, gigantesco. Você vai na ‘quebrada’, seja ela qual for, tem uma parede de grafite com o rosto do Sabotage, uma pichação escrita ‘O rap é compromisso’, entre outros”, afirma o pesquisador em entrevista ao Jornal da USP.

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Carvalho inicia sua dissertação mostrando o contexto social periférico de São Paulo quando Sabotage se lançou no rap. Ao apresentar estatísticas sobre a violência, nota-se que o artista era parte da parcela que mais sofria em São Paulo: homens, pretos, pobres e periféricos. Sabotage, além de ser todos estes, teria se envolvido com o tráfico quando mais novo.

De acordo com o pesquisador, “era perigoso ser Sabotage”, assim como continua perigoso ser jovem negro e pobre em São Paulo. De acordo com o Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo (Fundação Seade), em 2000, ano em que Sabotage lançou seu disco, 11.289 homicídios foram registrados na região metropolitana de São Paulo. A taxa de homicídio atingiu 63,1 para a Região Metropolitana, 87,5 para negros e 51,5 para não negros.

Na dissertação, o pesquisador destaca como Sabotage expressa sua negritude na música, sempre em uma posição de exaltação e resistência. O olhar pessimista e derrotado tem pouco espaço nas canções de Mauro, que, mesmo em posição de força, destaca as dificuldades enfrentadas por ele. Porém,  não esquece de celebrar sua origem, citando figuras negras importantes da música brasileira e se colocando como parte dela. Esta forma de se relacionar com a sua identidade de sujeito negro e periférico é descrita por Carvalho como o “símbolo de um desejo consciente de vida”.

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*Leia matéria na íntegra em Jornal da USP

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