Bastaram oito dias para a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) mudar de opinião e deixar revoltados o Flamengo e sua torcida. Apesar de o coordenador de seleções Juninho Paulista ter anunciado o adiamento de três rodadas do Brasileirão, a entidade optou por manter os jogos. A alegação foi de que jogadores de 19 clubes da Série A, à exceção do Flamengo, não querem adiar o início das férias para depois do dia 5 de dezembro, data prevista para a última rodada do campeonato.
E houve mais um episódio para deixar a Nação irritada: o Flamengo foi o único dos postulantes ao título do campeonato a ter dois jogadores convocados por Tite. E quando uma nova vaga surgiu para o ataque, Hulk, destaque do Atlético Mineiro e que esteve na convocação anterior, ficou de fora, preterido por Arthur Cabral, que joga na Suíça.
Mas afinal: existe algum tipo de retaliação por parte da CBF contra o Flamengo? O clube brigou pela volta do torcedor aos estádios antes dos demais, se posicionou contrário ao Conselho Técnico e contou com uma liminar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) para liberar o Maracanã para a torcida, na Copa do Brasil contra o Grêmio. Seria o suficiente? É realmente curioso lembrar que, no ano passado, só o Flamengo jogou com intervalo de 48h entre duas partidas. E que esse ano, ao remarcar dois jogos atrasados do Rubro-Negro, a CBF tenha colocado a tabela com um jogo no Rio, contra o Atlético-MG, 72h depois em Curitiba, contra o Athletico-PR, mais 72h, no Rio de novo, contra o Atlético-GO, e após mais 72h em Chapecó, contra a Chapecoense. Não seria mais justo fazer dois jogos no Rio e, depois, um no Paraná e outro em Santa Catarina?
A CBF deve ter seus motivos para organizar os jogos dessa forma. Mas não há como negar que o Flamengo terá prejuízos com esse desgaste e com os jogos que fará na Data Fifa sem três titulares absolutos: Gabigol, Everton Ribeiro e Arrascaeta. O Atlético-MG e o Palmeiras também tiveram jogadores convocados, mas nenhum dos dois perdeu jogadores do mesmo quilate.
Não é possível acreditar nessa teoria da conspiração. A CBF estaria punindo o time bicampeão, não só do Brasileirão como da Supercopa do Brasil, que ela também organiza. Seria ir de encontro a um clube que investe com as contas auditadas e dentro de seus limites, que deve, mas está em dia com as dívidas, e que representa bem o futebol brasileiro em competições internacionais há pelo menos três anos.
Toda essa discussão levanta uma dúvida: como surgir uma liga de clubes se há tamanha divisão? Imagino até que a postura da CBF, em apoiar a maioria dos clubes, seja uma bela estratégia para mostrar que ela está ao lado deles e pode, com isso, continuar organizando seus campeonatos.
O tempo dirá.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.
(Agência Brasil)