Liga Alemã

St. Pauli: o time da Alemanha que é muito mais do que futebol

Os torcedores nunca cobram do time os melhores resultados possíveis, apenas uma manutenção em sua identidade, sendo agressivos com turistas e imprensa estrangeira

fundado em 1910, o St. Pauli hoje representa o que há de mais importante nas lutas sociais feitas através do futebol
St. Pauli representa muito mais do que um time de futebol – Crédito: Getty Images

A cidade de Hamburgo, na Alemanha, é muito conhecida no futebol mundial por conta do Hamburgo Sport-Verein, clube fundado no dia 29 de setembro de 1887, campeão de uma Champions League, em 1982/83, uma Recopa Europeia da UEFA, seis Bundesligas, três Copas da Alemanha e duas Copas da Liga Alemã, mas que perdeu a final do Mundial de Clubes para o Grêmio em 1983. Porém, nas sombras do maior clube da cidade, era criado o St. Pauli.

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Instalado junto às docas de Hamburgo, no coração do bairro de classe trabalhadora que se fez epicentro da noite da região, responsável por abrir os horizontes do time fundado em 1910, o St. Pauli hoje representa o que há de mais importante nas lutas sociais feitas através do futebol.

Enquanto muitos acreditam que esporte e pautas extra campo não devam se misturar, o clube alemão mostra que as duas coisas podem e devem estar unidas na batalha por uma vida melhor para todas as pessoas.

Muitas coisas dentro do clube mostram que a equipe existe, muito além do futebol, sem precisar nem mesmo falar para dar sua posição no mundo político. Com bandeiras de Che Guevara, o time que já teve um presidente gay entra em campo ao som de rock e apenas aceita torcedores de esquerda. Lutando contra o racismo, o fascismo, o machismo e a homofobia de qualquer forma, o St. Pauli enlouquece qualquer pessoa que seja contra o futebol moderno.

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Às margens do Rio Elba, existe um modo curioso de se viver o futebol no bairro de trabalhadores. Com caveiras para todo lado, o clube ostenta em sua história no máximo alguns troféus da terceira divisão do Campeonato Alemão ou de competições regionais, sendo que o máximo de glória já visto pela torcida foi estar sete temporadas na elite do futebol do país.

O maior orgulho da equipe foi uma vitória contra o Bayern de Munique na temporada de 2001/02. Mas, por que um simples triunfo significa tanto para um clube?

Vencer o Bayern de Munique significou combater tudo aquilo que o St. Pauli é contra. Ricos, vitoriosos e cheios de estrelas, como era e sempre foi o time da capital alemã. O triunfo rendeu até mesmo uma camisa comemorativa histórica para o time, a dos Weltpokalsiegerbesieger (os vencedores dos campeões mundiais, em tradução livre), que ainda seguem à venda no aeroporto local.

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O St. Pauli e sua torcida vivem uma relação muito boa. Os torcedores nunca cobram do time os melhores resultados possíveis, apenas uma manutenção em sua identidade, sendo agressivos com turistas e imprensa estrangeira, defendendo até mesmo às vezes que não importa deixar de disputar a Bundesliga ou ser rebaixado, pois assim voltariam às suas origens.

Em sua carta de princípios, o time, originalmente chamado de Fußball-Club Sankt Pauli von 1910, deixa claro o que pensa sobre o futebol.

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“O FC St. Pauli promove um modo de vida e é um símbolo da autenticidade desportiva, o que permite às pessoas identificarem-se com ele independentemente dos seus resultados em campo. A tolerância e o respeito nas relações humanas são pilares importantes da filosofia do St. Pauli. O FC St. Pauli continuará a ser um bom anfitrião, garantindo todos os direitos aos seus visitantes e esperando ser recebido por eles da mesma maneira”, afirmam.

“Não existem adeptos melhores ou piores. Cada um pode dar expressão à sua paixão como lhe aprouver, desde que isso não colida com os princípios expostos”, dizia outra passagem do documento de 2009.

No ano de 2006, o clube organizou uma FIFI Wild Cup, fazendo trocadilho com a FIFA World Cup, na qual participaram autoproclamadas “nações subjugadas”, como Groenlândia, Tibete e Zanzibar. O time também participou sob a alcunha de República de St. Pauli. Entre os anos de 2002 a 2010, a equipe teve um presidente abertamente gay: Cornelius “Corny” Littmann, um empresário de teatros alemão.

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Estima-se que em toda a Alemanha, o time possua aproximadamente 11 milhões de simpatizantes e torcedores, mesmo com as 28 temporadas na segunda divisão e somente oito na elite. A última vez que o time esteve na Bundesliga foi no ano de 2011. Mas, isso tudo pode estar para mudar.

A bandeira de caveira, trazida para dentro do Estádio Millerntor por torcedores como símbolo de uma postura social e política, a braçadeira de capitão feita de arco-íris, representando o movimento LGBTQIA+, usada por Jackson Irvine, australiano de 31 anos, pode estar de volta aos gramados da primeira divisão para que todos possam conhecer a história do time.

No momento, o St. Pauli ocupa a primeira colocação da segunda divisão da Alemanha, acumulando 14 vitórias, nove empates e somente duas derrotas em todo o campeonato, somando 48 pontos, cinco a mais que o segundo lugar, Holstein Kiel.

A equipe volta a campo neste domingo, 10, contra o Hertha Berlin. Caso continue a boa campanha, o time irá voltar para a primeira divisão após longos 13 anos. Restam somente 10 partidas na competição e claro que o clube pode acabar não conquistando sua vaga. Mas, a história escrita pelos torcedores sempre fará parte da elite.

 

*Matéria publicada originalmente em SportBuzz

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