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Alfredo Ballí: A inspiração da vida real para o vilão Hannibal Lecter

Antes de ser preso, Ballí era um jovem e respeitado médico que tinha o próprio consultório no bairro de Talleres. Ele tinha apenas 28 anos quando, em 8 de outubro de 1959, assassinou Jesús Castillo Rangel

(Créditos: Orion Pictures/Divulgação)

Hoje em dia, os amantes de terror são agraciados com um grande catálogo de obras e vilões marcantes. Desde entidades sobrenaturais até assassinos praticamente imparáveis, a cultura pop conta com vilões emblemáticos e, a sua maneira, assustadores.

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Em 1991, no entanto, o espectadores do gênero foram agraciados com mais um filme que se tornaria uma grande referência na cultura pop: ‘O Silêncio dos Inocentes‘. Dirigido por Jonathan Demme, o longa foi o responsável pelo auge do renomado Anthony Hopkins como um dos mais frios e amedrontadores assassinos em série do cinema: o canibal Dr. Hannibal Lecter.

“Uma jovem e talentosa agente do FBI é aconselhada pelo Dr. Hannibal Lecter, um psiquiatra brilhante e também um psicopata violento e canibal, a fim de conseguir capturar outro assassino”, narra a sinopse do filme.

Para alguns, Hannibal pode não assustar tanto. Ele carrega a proposta de um vilão mais “pé no chão”, sem qualquer tipo de super-poder ou uma resistência sobre-humana. Outros, porém, consideram isso justamente o mais aterrorizante do personagem de Hopkins: o quão real ele pode ser.

E para assustar ainda mais, vale destacar uma curiosidade sobre o canibal: a sua criação carrega uma inspiração real. Confira a seguir a história por trás da criação do Dr. Hannibal Lecter, o canibal mais icônico do cinema!

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Caos no México

Era o fim da década de 1950, quando a cidade de Monterrey, no norte do México, se viu envolta em um grande fervor social, após misteriosos assassinatos em circunstâncias chocantes.

Foram dois casos, em especial, os mais marcantes: o de Jesús Castillo Rangel, um jovem cujo corpo foi encontrado desmembrado, enterrado em um escritório médico; e o de três irmãos da família Pérez Villagómez, que foram atacados enquanto voltavam de uma viagem ao Texas.

“Naquela época, a cidade estava tomada por um furor muito grande porque crimes que nunca haviam acontecido estavam ocorrendo”, explicou o jornalista e escritor Diego Enrique Osorno, que investigou ambos os casos na época, à BBC.

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A princípio, os casos não conversam entre si. Porém, uma pessoa, que observou os casos de perto, os usaria para criar um dois vilões mais marcantes do cinema. Era o então jornalista Thomas Harris, que tinha apenas 23 anos, e posteriormente escreveria o livro ‘O Silêncio dos Inocentes’ (publicado em 1988), inspiração para o filme de Jonathan Demme.

Encontro com assassinos

Em certa ocasião, Harris foi convidado por uma colaboração entre um jornal de Waco, no Texas, com a revista Argosy, a viajar até o México para entrevistar Dykes Askew Simmons. Ele foi preso ao ser apontado como responsável pelo assassinato dos irmãos Pérez Villagómez.

O seu rosto carregava uma série de cicatrizes no rosto, bem como um lábio leporino. Na época, ele estava detido na prisão estadual de Topo Chico, em Nuevo León, onde foi, inclusive, condenado à morte.

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Uma história conhecida sobre Simmons narra o momento em que tentou fugir da prisão. Na ocasião, porém, o plano não saiu como o esperado, e ele acabou baleado por guardas, mas “não sangrou até a morte porque foi salvo por um médico da prisão que era muito qualificado”, conforme descrito por Thomas Harris em uma edição especial de 25 anos de ‘O Silêncio dos Inocentes’.

O médico em questão, conhecido como Salazar, depois foi descrito por Harris como um homem baixo e de pele clara, com cabelos ruivos escuros, e que sempre mantinha uma postura ereta e elegante. Juntos, Salazar e Harris conversavam principalmente sobre o perfil psicológico de Simmons, e especulavam sobre o que poderia ter originado o seu comportamento

Ao partir da prisão, porém, Harris perguntou ao diretor de Topo Chico sobre a identidade do médico, que o surpreendeu com a resposta: “O médico é um assassino. Como cirurgião, ele conseguiu embalar sua vítima em uma caixa surpreendentemente pequena”. Ele era o assassino de Jesús Castillo Rangel.

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Alfredo Ballí e Dykes Askew Simmons, respectivamente
Alfredo Ballí e Dykes Askew Simmons, respectivamente / Crédito: Divulgação

Alfredo Ballí

A princípio, a identidade de Salazar não foi divulgada por Harris, para que ele seguisse em paz. Posteriormente, porém, descobriu-se o nome do homem: Alfredo Ballí Treviño.

Antes de ser preso, Ballí era um jovem e respeitado médico que tinha o próprio consultório no bairro de Talleres, em Monterrey. Ficou conhecido, principalmente, por sua dedicação ao atendimento de pessoas sem acesso ou possibilidade de pagar por planos de saúde.

Ele tinha apenas 28 anos quando, em 8 de outubro de 1959, assassinou Jesús Castillo Rangel. Depois, foi apontado que, supostamente, mantinham algum tipo de relacionamento.

As investigações apontam que o responsável sedou o jovem de 20 anos e, com ele ainda vivo, começou a desmembrá-lo; depois, colocou seu corpo em uma caixa, mas acabou descoberto.

Rapidamente foi condenado à prisão em Topo Chico, onde existia um consenso de que qualquer um, sob qualquer rumor de homossexualidade, poderia enfrentar grandes dificuldades.

O médico, no entanto, não teve problemas, e até mesmo se tornou bastante respeitado enquanto estava no local, tratando de outros detentos feridos; ele chegou até mesmo a ter um consultório autorizado no local.

Criação de Hannibal Lecter

Durante as conversas com Ballí, Thomas Harris se viu impressionado com a forma como o médico analisava Simmons e seu comportamento. Foi graças a essas entrevistas que ele moldou o que se tornaria a personalidade do Dr. Hannibal Lecter.

“Anos depois, enquanto tentava escrever um romance, meu detetive precisava falar com alguém que tivesse um conhecimento peculiar da mente criminosa. Perdido no labirinto do trabalho, levei meu detetive ao Hospital Estadual de Baltimore para criminosos insanos para consultar um detento”, escreve o autor na edição de 25 anos de ‘O Silêncio dos Inocentes’.

No entanto, aparentemente Ballí não foi a única referência: o personagem também possui um lábio leporino, tal como Simmons, que serviu como ponte entre o médico e o autor. Porém, vale dizer que Harris nunca afirmou que o criminoso texano tenha servido como inspiração.

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Anthony Hopkins como o Dr. Hannibal Lecter em 'O Silêncio dos Inocentes' (1991)
Anthony Hopkins como o Dr. Hannibal Lecter em ‘O Silêncio dos Inocentes’ (1991) / Crédito: Reprodução/Orion Pictures

O fim de Ballí

Por fim, após 20 anos de prisão, a pena de Alfredo Ballí foi finalizada, e ele foi libertado ao final da década de 1970. Livre, retornou ao seu consultório no bairro de Talleres. Vale mencionar ainda que ele confessou o assassinato de Jesús Castillo, mas nunca explicou o motivo, e também negou outras acusações.

Sua morte ocorreu somente em fevereiro de 2009, enquanto dormia, possivelmente em decorrência de um cancro na próstata.

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