Opinião

Ameaça real ou estratégia de intimidação da Rússia?

*Por María Pía Devoto – Coordenadora da Sehlac, diretora do APP e membro do conselho de administração do ICAN, ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2017.

Ameaça real ou estratégia de intimidação da Rússia
Usina nuclear Ucrânia (Crédito: Brendan Hoffman/ Getty Images)

A Ucrânia acusou a Rússia de “terrorismo nuclear” pelos ataques às usinas nucleares, em particular Zaporizhia, e alertou apocalipticamente “que seria o fim de tudo e que a Europa deveria ser evacuada”. Além dos riscos reais de disseminação de material radioativo se sua segurança for violada, nada aconteceu e é improvável que a Rússia faça um ataque maciço e geral a uma usina nuclear. Pois, se isso acontecesse, seria imediatamente afetado por compartilhar uma fronteira com a Ucrânia, assim como a Bielorrússia, sua maior aliada.

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Além disso, vídeos recentes parecem mostrar o uso de bombas incendiárias de uso restrito em civis na região de Lugansk, no leste da Ucrânia, acusação que logo foi ouvida, negada pela Rússia e ainda não verificada.

Por outro lado, a Rússia, alegando um suposto desenvolvimento de armas nucleares na Ucrânia, colocou suas próprias em um “regime especial de combate”, ou seja, ogivas nucleares podem ser usadas quase imediatamente. Isso não implica que haja uma real intenção de usá-los, mas sim que parece fazer parte de uma estratégia de intimidação.

Há concordância geral na análise de que a Rússia não estaria buscando uma guerra nuclear, mas sim mostrando sua disposição de recorrer às armas nucleares, conforme estabelecido pela doutrina militar russa sobre o uso da dissuasão nuclear. Por outro lado, estaria usando o conceito de “escalada para desescalar”, que significa a ameaça do uso de armas de destruição em massa em um contexto de uso de armas convencionais para forçar o outro, “o inimigo”, para desescalar o conflito.

Nos últimos dias, como parte da retórica do Kremlin, a Rússia declarou que armas biológicas e químicas estavam sendo desenvolvidas na Ucrânia com o apoio dos Estados Unidos, algo que foi imediatamente negado, mas interpretado pelos Estados Unidos como uma intenção de usar essas armas completamente. proibido.

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Armas convencionais

Até agora, foram usadas armas convencionais. Tanto que vemos veículos de combate russos cruzando cidades como um cartão postal de um conflito do século passado, civis ucranianos treinando com fuzis de madeira e, além da significativa superioridade russa, não houve envolvimento de armas de destruição em massa.

Assim são chamadas as armas nucleares, a Rússia possui o maior arsenal do mundo (6.000 armas), com 95% delas nas mãos daquele país e da Aliança Atlântica. Também são chamadas de armas biológicas e químicas, que são completamente proibidas com adesão universal, inclusive na própria Rússia.

Há um histórico do uso de armas químicas na história recente pela Rússia. Em 2017 foram utilizados na Síria por Al-Assad, aliado da Rússia, e recordemos o caso recente do adversário russo Alexei Navalni, hoje detido, que foi envenenado em 2020 com um agente nervoso na Alemanha.

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Tanto Vladimir Putin quanto os líderes ocidentais estão plenamente conscientes de que, se houver uma escalada no conflito envolvendo armas de destruição em massa, estaríamos enfrentando o que é chamado de Destruição Mútua Assegurada.

É como se tivéssemos duas pessoas em uma sala com latas de gás no cinto e ambas com fósforos, mas eles não os usam porque sabem que, inevitavelmente, se o fizerem, os dois queimarão. Foi isso que nos impediu até hoje de uma guerra nuclear.

E se houvesse uma guerra nuclear, o mundo como o conhecemos desapareceria. Esperemos que as conversações entre a Rússia e a Ucrânia, patrocinadas pelo presidente da Turquia, Recep Erdogan, tenham resultado para finalmente alcançar a paz.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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