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Como o Estado Islâmico se recuperou, cinco anos após expulsão na Síria?

O ataque na Rússia acontece após dois meses dos atentados suicidas em Kerman, no Irã. Esse caso resultou na morte de mais de 90 pessoas e ferimentos em quase 300. O braço do ISIS também reivindicou a responsabilidade por esses ataques

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Evacuação no Afeganistão em agosto de 2021, momento em que ISIS-K passa a se fortalecer mais – Crédito: Getty Images

Um dia antes do atentado na Rússia, na quinta-feira (21), Ian McCary, funcionário do Departamento de Estado dos EUA, participou de uma sessão de perguntas em comemoração ao quinto aniversário da “derrota” do Estado Islâmico (ISIS) na Síria. Ele destacou o papel da coligação liderada pelos EUA e seus parceiros locais na expulsão do grupo armado de Baghuz, na Síria, em 23 de março de 2019. No entanto, o dia seguinte à sessão representou um contraste com essa vitória recente.

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O braço do Estado Islâmico no Afeganistão, conhecido ISIS-K ou ISKP, reivindicou rapidamente a responsabilidade pelo ataque na Rússia. Vale ressaltar que os apoiadores do grupo terrorista têm celebrado o atentado nas redes sociais. Isso é considerado como um sinal recente do ressurgimento do Estado Islâmico após contratempos na Síria e no Iraque, e da importância do Afeganistão para suas ambições.

“Se o ataque na Rússia fosse definitivamente atribuído ao ISKP, isso sublinharia a determinação do grupo em alinhar as suas ações com os seus objetivos pronunciados – visando países que desempenham papéis fundamentais no cenário geopolítico do Médio Oriente e da Ásia do Sul e Central”, afirmou o professor de ciência política na Universidade Clemson, Amira Jadoon, à Al Jazeera.

Vale ressaltar que esse ataque na Rússia acontece após dois meses dos atentados suicidas em Kerman, no Irã. Esse caso resultou na morte de mais de 90 pessoas e ferimentos em quase 300. O ISKP também reivindicou a responsabilidade por esses ataques.

A motivação por trás dos ataques recentes

De acordo com Jadoon, apesar da visão do grupo sobre a Rússia como opressora dos muçulmanos em várias regiões, incluindo a Chechênia, Síria e Afeganistão durante a ocupação soviética nos anos 1980, há uma intenção estratégica mais ampla por trás dos ataques recentes.

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“Ao dirigir a sua agressão para nações como o Irã e a Rússia, o ISKP não só confronta os pesos pesados regionais, mas também sublinha a sua relevância política e alcance operacional no cenário global”, afirmou.

Os ataques na Rússia e no Irã são cruciais para que o grupo “permaneça relevante, amplifique a sua reputação e sustente o seu quadro estrategicamente diversificado”, disse Jadoon.

Contudo, especialistas afirmam que essa situação não seria tão bem-sucedida se o grupo não tivesse conseguido estabelecer uma base segura no Afeganistão e fortalecer sua presença lá. Vale ressaltar que isso ocorreu mesmo após o Taleban, grupo inimigo do Estado Islâmico, ter tomado o controle do país em agosto de 2021.

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O fortalecimento do Estado Islâmico no Afeganistão

No ápice de sua influência, o Estado Islâmico controlava aproximadamente um terço da Síria e 40% do Iraque. No entanto, devido à pressão militar de uma aliança liderada pelos EUA, Rússia e Irã e também dos governos desses dois países, o grupo perdeu 95% desse território até o final de 2017. A derrota de Baghuz em março de 2019 resultou na perda do controle físico do grupo sobre qualquer área.

No entanto, o ISKP, seu braço no Afeganistão, permaneceu construindo sua reputação. Em maio de 2020, por exemplo, foi atribuído ao grupo um ataque a uma maternidade em Cabul que matou 24 pessoas. Cerca de seis meses depois, terroristas do grupo fizeram também um ataque à Universidade de Cabul. Como resultado, ao menos 22 estudantes e professores perderam a vida.

Mais tarde, após os talibãs retomarem o controle no Afeganistão, o ISKP enviou uma mensagem de ameaça aos seus inimigos locais e às forças militares norte-americanas que estavam se retirando, realizando ataques no aeroporto de Cabul. Pelo menos 175 civis e 13 soldados norte-americanos morreram na ocasião. Segundo Kabir Taneja, membro da Observer Research Foundation, desde então o ISKP se fortaleceu no Afeganistão.

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“O ISIS-K pode ser um rival do Talibã, mas o ISIS-K se beneficiou da tomada do poder pelo Talibã e também da retirada dos EUA”, afirmou Michael Kugelman, diretor do Instituto do Sul da Ásia do Wilson Center, à Al Jazeera. “A ausência de ataques aéreos da OTAN – talvez a tática mais eficaz usada para gerir a ameaça ISIS-K – dá ao grupo mais espaço para respirar. Com efeito, o grupo beneficiou de um ambiente propício, encorajando-o a expandir o seu foco além das suas áreas de bastiões”, finalizou.

 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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