* OPINIÃO - Eleonora Gosman

Javier Milei não terá espaço para radicalizar a sua política externa

Preocupado com o “efeito Milei”, o governo brasileiro decidiu marcar a data da próxima Cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro para 7 de dezembro

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(Crédito: Reprodução/Perfil.com)

Preocupado com o efeito “Javier Milei”, o governo brasileiro decidiu marcar a data da próxima Cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro para 7 de dezembro.Como a posse presidencial na Argentina é no dia 10 desse mês, Alberto Fernández ainda estará no cargo e será o único a tomar decisões. A questão prioritária nesta nova rodada do bloco sul-americano é a aprovação de alterações no texto do tratado com a União Europeia, com possibilidade até de que a assinatura final seja anunciada naquele fórum.

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No Palácio Itamaraty há quem defenda que a eventual chegada de Milei à Casa Rosada poderia “desvendar” as relações entre os dois países, e consequentemente levar à paralisia do processo de integração. Algo semelhante aconteceu nos tempos do ultradireitista Jair Bolsonaro, quando teve que governar com Fernández de 2020 a 2022.

É verdade, alertam em Brasília, que não é fácil abandonar o Mercosul, pois “teria um grande custo” para um dos quatro países tentar. Não é por acaso que o ‘Brexit‘ e as consequências não intencionais desse processo para a Grã-Bretanha sejam lembrados.

Oliver Stuenkel, cientista político com doutorado pela Universidade de Duisburg-Essen, julgou que a vitória de Milei seria “um revés” para o governo Lula, visto que o candidato ‘anarcocapitalista’ utilizou o sentimento “anti-Brasil” durante sua campanha . Vale lembrar que, no último debate presidencial entre Sergio Massa e Milei, a relação com o Brasil foi um dos pontos em discussão e o candidato do Unión por la Patria ainda acusou o adversário de querer romper relações com o sócio. No confronto transmitido ao vivo pelo canal Band News , Milei respondeu: “Vocês fazem parte de um governo em que o presidente Fernández não conversou com Bolsonaro. Qual é então o problema se eu parar de falar com Luiz Inácio Lula da Silva ?”

Segundo Stuenkel, Javier Milei mobilizou seguidores atacando não só a Argentina, mas também a China. “É uma forma de usar a política externa para entusiasmar os fãs.” Apesar destas expressões perturbadoras, alguns diplomatas brasileiros pensam que tudo voltará ao normal assim que o processo eleitoral terminar: “Há pessoas à volta de Milei que nos enviaram sinais de calma, no que diz respeito às relações bilaterais”, afirma.

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Stuenkel sustentou que é preciso lembrar o “sucesso” de Bolsonaro em radicalizar sua política externa nos primeiros anos de seu governo. “Na verdade, ele teve sucesso porque nos Estados Unidos foi Donald Trump quem reinou na Casa Branca. Ao perder para Joe Biden, o Brasil foi obrigado a moderar sua postura” a ponto de ser pressionado a substituir o comando do Itamaraty, até então nas mãos do ex-chanceler Ernesto Araújo; Este diplomata foi substituído em março de 2021 por Carlos França. “Não havia mais espaço para continuar com aquela estratégia radicalizada no mundo pós-Trump”, afirmou o especialista.

 

 * Leia a análise completa em Perfil.com

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