* Por Walter Curia

Jujuy: apenas uma amostra de como será difícil

Análise: o que acontece em Jujuy, no norte da Argentina. é um retrato do filme que está sendo exibido enquanto se espera o próximo governo

jujuy
(Crédito: Reprodução Perfil.com/Twitter Prensa Obrera)

Os episódios de violência em Jujuy remetem a dezembro de 2017, quando o governo de Mauricio Macri avançou com seu falso projeto de Reforma da Previdência (era apenas uma mudança na fórmula de atualização). Ficou para a história com o recorde inverificável das “14 toneladas de pedras” contra o Congresso Nacional.

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Macri havia sido legitimado dois meses antes nas urnas e parecia ter consolidado seu projeto de longo prazo. A iniciativa previdenciária estava sendo debatida na Câmara dos Deputados enquanto uma multidão se manifestava em torno do Palácio Legislativo. Isso logo levou a uma tentativa de assalto ao prédio e a um ataque desproporcional à polícia da cidade. A Câmara dos Deputados quase reproduziu esse cenário, com os legisladores a ponto de se agredirem fisicamente. Caos.

Gerardo Morales acaba de vencer em Jujuy. Seu candidato, o ministro da Fazenda Carlos Sadir, obteve quase 50% dos votos nas eleições de maio para governador. Mais do que dobrou os votos do Frente de Todos, a principal oposição em uma província onde a esquerda não kirchnerista vem crescendo há anos. Como Macri em 2017, Morales se fortaleceu politicamente e avançou com sua agenda de reformas, incluindo a Constituição, antes da transferência do comando, marcada para dezembro. O cerne da reforma visa regular o protesto social e o controle das terras das comunidades nativas ricas em recursos naturais. O negócio do lítio. A primeira onda de protestos, no domingo (18), foi acompanhada de repressão e fez o governador prometer rever dois artigos do projeto de lei.

Morales está em campanha, ainda não está claro para que. Quatro dias após o encerramento das listas para PASO (eleições primarias, abertas, simultâneas e obrigatórias), o governador é o melhor candidato que o radicalismo tem para a disputa a interna à presidência no Juntos por el Cambio no que representa uma oferta raquítica, caracterização que o inclui. Seu nome é ouvido há dias para acompanhar Horacio Rodríguez Larreta na fórmula e enfrentar Patricia Bullrich. Parece ser o seu telhado.

A situação em Jujuy altera os planos de Rodríguez Larreta às vésperas de oficializar as fórmulas. A saída de Larreta, porém, foi para a frente. O chefe do governo de Buenos Aires foi, nesta segunda-feira(19), às redes sociais, para apoiar Morales e acompanhar sua decisão de “pôr ordem e aplicar a lei” em Jujuy. Ele fez isso novamente esta manhã, acusando o kirchnerismo de responsabilidade pelos incidentes em torno do Legislativo.

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Larreta parece ter entendido que os episódios em Jujuy são uma oportunidade para mostrar um perfil duro diante dos protestos. Uma forma de disputar o eleitorado de Bullrich, transformado em campeão da narrativa da ordem. Um lugar que só discute com o inclassificável Javier Milei.

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A vontade é um atributo essencial de um líder político e é alimentada por votos. Há um inegável deslocamento das audiências -segundo a categoria de Bernard Manin– à direita do espectro político; as sondagens dizem-no e a maioria silenciosa diz-no. A oferta política está respondendo a essa demanda.

O que acontece em Jujuy é uma foto do filme que está sendo exibido enquanto se espera o próximo governo. A agenda que se aproxima impõe um severo ajuste das contas públicas e um plano de estabilização econômica, cujo peso recairá sobre toda a sociedade, inclusive sobre as classes médias que alimentam essas narrativas. Para quem chegar ao governo – gavião, pombo ou qualquer ave – a agenda de reformas terá uma resposta reativa.

O que vemos em Jujuy mostra que nada será fácil.

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 * Walter Curia é diretor de Perfil Argentina

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