Em uma chuvosa noite de junho de 1974, em Toronto, Mikhail Baryshnikov tomou uma decisão que mudaria dramaticamente o curso de sua vida. Conhecido por suas habilidades excepcionais no ballet, ele escolheu desertar da União Soviética, onde já era uma estrela brilhante, e cimentou seu nome na história não apenas como um dançarino fenomenal, mas também como um símbolo de coragem e busca pela liberdade artística.
Na época com 26 anos, Baryshnikov deixou para trás não apenas seu país natal, mas também uma carreira confortável e um futuro certo sob o rígido regime evitável da URSS. O que o impulsionou a correr através da cidade até encontrar um carro que o transportaria, como ele mesmo disse, “para o mundo livre”? Qual era a vida que ele tanto ansiava abraçar no Ocidente?
Por que Mikhail Baryshnikov desertou durante uma turnê em Toronto?
Apesar de sua fama e sucesso na União Soviética, Baryshnikov ansiava por algo que nenhum palco em seu país natal poderia oferecer: liberdade criativa. Viver sob a constante vigilância e restrições impostas aos artistas limitava sua capacidade de explorar, crescer e, mais importante, de se expressar verdadeiramente através da dança. A decisão de desertar pode ter sido arriscada, mas para ele, o verdadeiro crime seria sufocar sua arte sob as imposições governamentais.
“Eu tinha 26 anos. Isso é meia-idade para um dançarino clássico. Eu queria aprender com coreógrafos ocidentais. O tempo estava se esgotando”, disse em entrevista ao The New York Times.
Impacto de sua fuga na carreira e na cultura popular
“Lembro-me de sentir um senso de conforto e segurança depois de ver alguns rostos muito amigáveis no carro da fuga. […] Eu estava começando uma nova vida, algo totalmente desconhecido, e era minha decisão e minha responsabilidade. Era hora de eu crescer”, contou o bailarino sobre o dia de sua ‘fuga’.
Logo após seu ato de deserção, Mikhail Baryshnikov se tornou um ícone influente na cultura popular. Ele integrou grandes companhias de dança como o American Ballet Theater e o New York City Ballet, alcançando sucesso também como ator em filmes e séries de televisão como a queridinha e atemporal “Sex and The City”. Além disso, suas escolhas audaciosas abriram portas para que outros artistas pensassem na possibilidade de buscar novos horizontes para sua arte.
Contribuições fora dos palcos e posicionamento político
Com o passar dos anos, Baryshnikov também dedicou-se a outras formas de arte e causas sociais. Fundou o Baryshnikov Arts Center em Manhattan, focando na apresentação de dança, música entre outras expressões artísticas. Além do mais, nos últimos tempos, ele tem sido uma voz ativa contra injustiças políticas, utilizando sua influência para falar sobre questões delicadas, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, atitude que ele descreve como uma consequência dos “oportunistas totalitários perigosos” que comparou ao ex-presidente Donald Trump.
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Este ano marca o 50º aniversário da deserção de Baryshnikov, uma ocasião que o faz refletir sobre suas escolhas, suas perdas e seu longo caminho na dança. Em uma recente entrevista, ele realça o peso e a importância dessa decisão tomada em 1974, mostrando que, apesar dos desafios, ele nunca hesitou em escolher a vida que sentia ser a direita para si. “Não sou um desertor —sou um selecionador”, disse ele. “Essa foi minha escolha. Eu selecionei essa vida”, completou.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini
