Ele queria ser presidente do Brasil. Em sua carreira brilhante, chegou a ministro, chanceler e embaixador. Mas não alcançou a presidência da república. Presidiu, isto sim, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que determinou a partilha da Palestina. Ao bater o martelo no dia 29 de novembro de 1947, ele decidiu: aquele território seria dividido entre dois Estados. Para os judeus, viraria um herói. Para os árabes, não passaria de um carrasco.
Nascido em 1894 na pequena cidade de Alegrete, interior gaúcho, Oswaldo Aranha teve sua vida política marcada pela amizade e por uma intensa colaboração com o conterrâneo Getúlio Vargas. Em 1934, depois de já ter passado pelos ministérios da Justiça e da Fazenda, foi nomeado embaixador em Washington. Começava ali seu profundo fascínio pelo estilo de vida e pelo modelo de democracia dos americanos.
Aranha defendia o alinhamento do Brasil com os EUA antes mesmo de assumir a embaixada brasileira em Washington. A economia americana ganhava cada vez mais importância no mundo. E o ambiente internacional conturbado sugeria uma aproximação estratégica com aquele país.
Segunda Guerra
A Segunda Guerra Mundial aproximava-se. Judeus que fugiam da Europa eram barrados em diversos países, entre eles o Brasil. Em 1937, uma circular secreta (número 1.127) já determinava que os órgãos de segurança nacional vigiassem a entrada desses imigrantes.
No ano seguinte, nova circular (1.249) autoriza o ingresso de judeus apenas em certos casos – artistas, por exemplo, ou aqueles que tivessem cerca de 30 mil dólares para pagar ao governo. Até que, em 1941, o Estado Novo de Vargas – com Aranha à frente do Ministério das Relações Exteriores – suspende o visto a judeus de todas as nacionalidades.
Esse é um período bastante controverso entre historiadores e biógrafos. Há quem defenda que o então ministro, um entusiasta da política americana, tentou relaxar as restrições à vinda de imigrantes judeus. Para os que defendem essa tese, Oswaldo Aranha encontrava-se em uma posição delicada: se puxasse demais a corda, acabaria fora do governo, abrindo espaço para o crescimento da ala governista pró-Eixo.
Quem estuda o antissemitismo no Brasil desse período, no entanto, questiona a atuação ministro, argumentando que muitos judeus tiveram negada sua entrada no país e acabaram morrendo em consequência da política externa brasileira.
Polêmica à parte, o fato é que Oswaldo Aranha continuou no governo e alcançou seus objetivos. Em 1942, o Brasil rompe relações com Alemanha, Itália e Japão. O alinhamento com os americanos rende vantagens políticas e econômicas. Após a guerra, com dois grandes blocos se formando (EUA de um lado, URSS de outro), a orientação do Brasil é se aproximar cada vez mais de Washington.
Presidente por acaso
Oswaldo Aranha entrou para a história de Israel quase por acaso. No final de 1946, ele fora convidado para um seminário nos EUA e prometera que traria para o chanceler brasileiro, Raul Fernandes, um relatório sobre as relações entre os dois países. Ainda estava em solo americano quando o então embaixador brasileiro, Leão Velloso, sofreu um infarto fatal. Aranha assumiu seu lugar. Pouco depois, seria eleito presidente da segunda Assembleia Geral da ONU.
Seja por interesse na aproximação com os EUA ou por convicção, sua atuação na partilha da Palestina marcou-o como amigo dos israelenses. O jornalista Nanhum Sirotsky, que o conheceu de perto e hoje mora em Israel, conta que, entre outras homenagens, Aranha ganhou uma rua em Tel-Aviv com seu nome. Oswaldo Aranha morreu em 1960, no Rio de Janeiro, pouco antes de completar 66 anos.