JÓIAS DA COROA

Saiba mais sobre os artefatos saqueados de Gana devolvidos após 150 anos

Este movimento inclui 17 peças do prestigioso Victoria & Albert Museum e outras 15 do venerável Museu Britânico

Entre os artefatos que serão retornados estão peças impressionantes, incluindo um cachimbo da paz de ouro, que serão repatriados após décadas
Confira os itens que serão enviados como empréstimo a Gana – Crédito: Reprodução/British Museum via BBC

Após 150 anos desde o saque dos tesouros reais da corte do rei Asante, o Reino Unido anunciou um gesto significativo, enviando algumas das “joias da Coroa” do país de volta a Gana. Sob acordos de empréstimo de longo prazo, 32 itens de valor histórico inestimável serão devolvidos, marcando um marco na relação entre os dois países e abrindo caminho para uma nova era de cooperação cultural.

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Entre os artefatos que serão retornados estão peças impressionantes, incluindo um raro cachimbo da paz de ouro, que serão repatriados a Gana após décadas de debates sobre a posse e apropriado reconhecimento histórico. Revelado pela BBC, este movimento histórico inclui 17 peças do prestigioso Victoria & Albert Museum (V&A) e outras 15 do venerável Museu Britânico.

Esses artefatos, muitos dos quais foram adquiridos durante as guerras do século XIX entre britânicos e os Asante, representam não apenas um tesouro cultural, mas também um símbolo da rica história compartilhada entre os dois países. Entre os itens a serem devolvidos, estão uma espada de Estado nomeada ‘Mpomponsuo‘ e emblemas de ouro usados por funcionários da corte, trazendo à tona memórias de uma era tumultuada e estabelecendo um novo capítulo na relação bilateral.

“Eles não são apenas objetos, eles também têm importância espiritual. Fazem parte da alma da nação. São pedaços de nós que estão retornando”, disse à BBC Nana Oforiatta Ayim, conselheira especial do ministro da cultura.

O negociador-chefe de Gana expressou esperança de que o retorno desses artefatos históricos não apenas honre o passado, mas também inaugure “um novo senso de cooperação cultural” entre as nações, sinalizando um esforço conjunto para reconhecer e valorizar o patrimônio compartilhado. No entanto, é importante notar que este não é um ato de restituição permanente, mas sim um empréstimo de três anos, com a opção de prorrogar por mais três, em conformidade com as leis vigentes.

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Angus Patterson, curador sênior do V&A, disse que, no século XIX, levar esses itens “não era apenas sobre adquirir riqueza, embora isso faça parte. Também se trata de remover os símbolos do governo ou os símbolos da autoridade. É um ato muito político”. Tristram Hunt, diretor do V&A, também acrescentou que as peças são equivalenteS às joias da Coroa britânica.

“Sabemos que os objetos foram roubados em circunstâncias violentas, sabemos que os itens pertencem ao povo Asante”, disse ainda Nana Oforiatta.

Os artefatos em questão serão exibidos no Museu do Palácio Manhyia em Kumasi, capital da região de Asante, em uma celebração marcante do jubileu de prata do Asantehene, o atual rei Asante, conhecido como Otumfo Osei Tutu II. Esses artefatos de ouro, considerados símbolos do governo real local, desempenham um papel fundamental na preservação da identidade cultural e histórica de Gana, sendo comparáveis aos Bronzes de Benin, saqueados do palácio do Reino de Benin pela Grã-Bretanha.

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Embora alguns vejam este empréstimo como um passo positivo em direção à reconciliação e reconhecimento histórico, outros levantaram preocupações sobre a possibilidade de isso sugerir um reconhecimento de propriedade pelo Reino Unido. O debate em torno da restituição de artefatos culturais traz à tona questões complexas sobre propriedade, legado colonial e justiça histórica, destacando a importância de um diálogo contínuo e de abordagens colaborativas para enfrentar questões do passado.

Enquanto os empréstimos representam um marco significativo, eles também reacendem o debate sobre as políticas de restituição de artefatos culturais, uma questão que permanece em pauta em todo o mundo. Em um contexto mais amplo, este evento destaca a necessidade de abordagens sensíveis e inclusivas para lidar com o legado do colonialismo e promover uma compreensão mais profunda e respeitosa da diversidade cultural e histórica global.

Este gesto do Reino Unido para com Gana ecoa uma crescente consciência global sobre a importância da preservação e repatriação de artefatos culturais, destacando a necessidade de uma abordagem colaborativa e responsável para garantir o respeito pela história e cultura de todas as nações envolvidas.

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* Matéria publicada sob supervisão de Ricardo Parra.

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