8 DE JANEIRO

“Após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado”, diz Moraes sobre o plano dos apoiadores de Bolsonaro

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) afirma que plano era algo esperado: “não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido”

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Alexandre de Moraes – Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes disse em entrevista divulgada pelo jornal “O Globo” nesta quinta-feira (4) que os responsáveis pelos atos de 8 de janeiro planejavam prendê-lo e enforcá-lo na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

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Eram três planos. O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição“, declarou.

Para Moraes, o plano era algo esperado, “tirando um exagero ou outro“. “Não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido. Mantive a tranquilidade. Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso ocorreu, então está tudo bem“, contou.

Confira a declaração de Moraes abaixo:

Questionado pela O Globo sobre a sua segurança pessoal, o ministro disse que “ela continua a mesma desde o momento em que eu assumi a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (em 2014)“. “Eu já recebia ameaças da criminalidade organizada. O esquema é o mesmo há quase nove anos. Em relação à minha família, aumentei a segurança“.

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Esses golpistas são extremamente corajosos virtualmente e muito covardes pessoalmente. Então, chegam muitas ameaças, principalmente contra minhas filhas, porque até nisso eles são misóginos. Preferem ameaçar as meninas e sempre com mensagens de cunho sexual. É um povo doente“, acrescentou.

Moraes contou que a inação da Polícia Militar do Distrito Federal em conter os criminosos que depredavam o patrimônio público o deixou inconformado: “O que chocava era a inação da Polícia Militar. Fui secretário de Segurança Pública em São Paulo e ministro da Justiça. Afirmo sem medo de errar: não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo. O que precisávamos ver era qual gravidade e a sequência“.

Achei importante três decisões: as prisões do então secretário (Anderson Torres) e do comandante geral da Polícia Militar (Fábio Augusto Vieira), para evitar efeito dominó em outros estados. Eu me certifiquei que as demais polícias militares estavam tranquilas, mas não podíamos arriscar. Ao mesmo tempo, o afastamento do governador (Ibaneis Rocha), para evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista. E a determinação de prisão em flagrante imediata de quem permanecesse em frente a quartéis pedindo golpe“.

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Para o ministro, os acampamentos nos quartéis foi um “erro muito grande das autoridades” e o início de uma escalada de violência que teve o ápice no 8 de janeiro.

Isso é crime e agora não há mais dúvida disso. O Supremo Tribunal Federal recebeu mais de 1.200 denúncias contra quem estava acampado pedindo golpe militar, tortura e perseguição de adversários políticos. No dia do segundo turno, também tivemos um problema grave com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), objeto de inquérito, que inclusive gerou a prisão do ex-diretor (Silvinei Vasques). Houve a greve dos caminhões tentando parar o país. A violência estava numa crescente. No dia da diplomação, 12 de dezembro de 2022, houve prisões após a (tentativa de) invasão da Polícia Federal. Como na posse não houve nada, infelizmente as pessoas da área de segurança talvez tenham ficado mais otimistas. O grande erro doloso foi permitir a entrada (dos golpistas) na Esplanada dos Ministérios. O 8 de Janeiro foi o ápice do movimento: a tentativa final de se reverter o resultado legítimo das urnas“.

Sobre o andamento das investigações dos criminosos, Moraes reforça que todos aqueles que tiverem a responsabilidade comprovada, após o devido processo legal, serão responsabilizados. “Já se chegou a alguns financiadores, divulgadores e instigadores. Obviamente, é possível chegar aos organizadores, inclusive intelectuais. Em menos de um ano, já temos mais de 30 condenados pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. Não poderíamos deixar que aqueles que tentaram romper com a democracia no Brasil continuassem achando que uma eventual impunidade pudesse encorajá-los a atentar novamente“.

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Ao ser questionado sobre a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, que já fez uma série de ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral, o ministro afirmou que “todas as pessoas sobre as quais a Polícia Federal encontrar indícios serão investigadas, desde os executores até eventuais políticos. Mas isso a investigação é que vai demonstrar“.

Moraes concluiu afirmando que tem como lição do 8 de janeiro a necessidade de impedir a continuidade dessa “terra sem lei das redes sociais“. “Sem elas, dificilmente (os atos golpistas) teriam ocorrido de forma tão massiva. Na parte criminal eleitoral, todos os políticos, quando houver comprovação de participação, devem ser alijados da vida política, além da responsabilidade penal. Quem não acredita na democracia não deve participar da vida política do país“.

*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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