LIDERANÇAS CONSERVADAS

Com Pacheco e Lira reeleitos, o que esperar do legislativo em 2023?

Apesar de eleições terem feito o gosto do governo, a renovação do corpo do Congresso pode criar desafios para Lula.

Com Pacheco e Lira reeleitos, o que esperar do legislativo em 2023?
Arthur Lira deve render maiores esforços do governo para manter o ritmo de tramitação das matérias (Crédito: Divulgação/ Agência Câmara de Notícias)

Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL) não surpreenderam ao serem reeleitos para presidir, respectivamente, o Senado e a Câmara dos Deputados. Ambos subiram à direção do Congresso Nacional com apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, mas isso não significa que os caminhos estão livres para o novo governo.

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Apesar da vitória, Pacheco conquistou a posição em uma disputa mais aproximada, com 49 votos a 32 contra o adversário bolsonarista, Rogério Marinho (PL-RN). Já Lira, fez história com número recorde de votos para a eleição à presidência da Câmara, com 464 contra 21 e 19 dos outros dois adversários. Tanto o PT de Lula quanto o PL de Jair Bolsonaro estiveram ao lado do veterano da Câmara na disputa.

O cientista político Leandro Consentino explica que a vitória de Pacheco é mais expressiva no que diz respeito à influência do governo. “No caso do Senado é possível dizer que foi uma vitória em que o governo se engajou mais, apostou mais e teve uma vitória mais expressiva. Tinha um outro candidato com potencial de derrotar o Pacheco, o Marinho, que acabou derrotado. Confirmou o desejo do governo”.

Já a vitória de Lira é muito mais pessoal para o congressista, do que vantajosa para o governo. No próprio discurso de posse ele defendeu “desinflamar” o relacionamento entre as casas legislativas, o que Consentino define como pragmatismo, em especial os ajustes no tom do discurso para o novo governo especialmente depois dos ataques antidemocráticos. “O centrão se adapta muito bem ao novo ambiente”, explica. “O Lira é bem pragmático para entender que a situação e a conjuntura mudaram. Se isso não tinha sido entendido antes, 08 de janeiro foi um ponto de não retorno.”

GOVERNO E CONGRESSO

Apesar do apoio e vitória com Pacheco e Lira reeleitos, desafios na articulação no Congresso Nacional devem surgir para o presidente Lula. Rafael Cortez, também cientista político, coloca que é necessário cautela especialmente em relação ao presidente da Câmara. “A figura do Arthur Lira tem especial importância. Por conta do histórico de apoio ao governo Bolsonaro, do tamanho da vitória que ele obteve para a sua reeleição, me parece uma relação, em alguma medida, de concorrência.” 

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Ele explica que não necessariamente se trata de uma rivalidade, mas de uma dinâmica conflituosa. “Mesmo com apoio que o PT deu à sua reeleição, não me parece que será um mandato operativo, sobretudo em alguns pontos mais sensíveis.”

Quanto ao posicionamento de Lula, é preciso cautela e mudança no posicionamento em relação a mandatos anteriores. Ambos os especialistas ressaltam que será preciso ir mais longe no Congresso de forma a atingir até mesmo a ala da direita, mais distante do posicionamento político do presidente. “Vai ser preciso um ajuste fino em uma realidade diferente dos outros dois mandatos, quando o executivo tinha um protagonismo maior”, explica Cortez.

Quanto a forma de lidar com os assuntos que devem chegar à mesa da presidência da Câmara, Rafael Cortez alerta que também é um cenário que vai demandar resiliência. “Não espero do Lira uma paralisia decisória, mas obstáculos importantes para a agenda do governo”. Apesar de algumas matérias enfrentarem barreiras relacionadas ao conteúdo, com determinados assuntos dificultados pelo congressista, os desafios devem repousar majoritariamente na velocidade em que determinadas pautas vão tramitar. “O ritmo dessas matérias é também muito importante. Há um senso de urgência do governo na pauta econômica e que pode ser prejudicado por esse jogo ambíguo que eu acredito que apareça entre Lira e o governo.”

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A rejeição é substancial em todo o Congresso Nacional e também na população, o que significa que o capital político é baixo. Diante desse cenário, Leandro Consentino reforça a necessidade do diálogo, em especial dentro do Senado onde grande parcela do plenário se colocou a favor de um nome essencialmente bolsonarista. “Há uma fração desses que votaram no Marinho que estão dispostos ao diálogo. O PL não é extremamente bolsonarista, uma fração dele e dos outros partidos querem o seu quinhão. São o centrão clássico e negociam cargos, verbas, emendas.”

Mesmo com Pacheco e Lira reeleitos, tudo indica que o caminho no legislativo nos próximos dois anos será tortuoso, mas abre espaço para negociação na tentativa de Lula de buscar resultados, ainda que parciais, de suas promessas para os próximos quatro anos.

 

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*Texto de Beatriz Moreno, sob supervisão de Lilian Coelho

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