
Eurípedes Alcântara, diretor de jornalismo do jornal O Estado de São Paulo (também conhecido como Estadão), analisou as eleições no Brasil e destacou que “foi a demonstração de que o centro político não consegue mais se sustentar”. Ele também revelou quem poderia vencer na votação entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ao mesmo tempo, enfatizou a importância do voto ausente e comentou que a “falta de compromisso” é “porque as leis eleitorais não estimulam o debate”. “O peronismo é a segunda alma da Argentina, mas o PT não é no Brasil”, destacou no programa Modo Fontevecchia, da Net TV, Rádio Perfil (FM 101.9) e Youtube.
Qual é a sua opinião sobre o que aconteceu nas eleições no Brasil?
O que aconteceu foi a demonstração de que o centro político não pode mais se sustentar no Brasil. A polarização está acirrada e, quando se olha a composição do Congresso, o que se vê é que os que foram eleitos são os piores, os mais apaixonados, capazes de sujar os demais. É por isso que o panorama não é muito agradável. Agora há um grande ponto de interrogação para a votação.
O que você acha que vai acontecer com os votos de Ciro Gomes e Simone Tebet?
Eles vão se dividir ao meio. O que será decisivo será a capacidade de atrair os que estiveram ausentes nas eleições. Ambos os lados querem trazer pessoas que não estavam interessadas em votar no domingo, essa é a luta mais intensa que vejo.
A importância de somar os votos dos ausentes
Quantos brasileiros não foram votar?
Há cerca de 30 milhões de pessoas que não votaram. Isso tem um peso muito grande nas eleições e tenho a impressão de que vão fazer todos os esforços para angariar o grupo. Os votos de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) serão divididos ao meio e formarão uma diferença a favor de Lula. A decisão vai depender da capacidade de motivar os brasileiros que não foram votar.
Comparado com a eleição anterior, houve mais pessoas que não votaram? Quantos podem mudar para o segundo turno?
Os partidos calculam que podem motivar mais 10 milhões de pessoas a votar. A ausência histórica no Brasil está entre 15 e 20 por cento. Mas como o segundo turno será mais simples, por haver apenas dois candidatos, o número de leitores pode aumentar.
A extrema divisão entre Lula e Jair Bolsonaro
O que aconteceu com a polarização no Brasil? Que efeito a comunicação tem nisso?
As redes sociais permitem que todos pesquisem e encontrem cada vez mais pessoas que pensam o mesmo. Isso está se refletindo nos jovens e, principalmente, nas grandes cidades. O Brasil é um país fortemente urbanizado e a grande maioria vive em grandes cidades. Isso reflete a falta de comprometimento dessas pessoas porque as leis eleitorais não incentivam o debate.
A eleição não existe até um mês ou dois antes da votação. Não há discussão sobre inflação ou prioridades, apenas o caráter de cada um. Esse fenômeno também acontece na Argentina e em outras partes do mundo.
Como foi a polarização na mídia?
A mídia simpatiza com uma solução que não vem dos extremos. Em grande parte, há simpatia por Lula. No caso de Jair Bolsonaro, isso é quase inexistente na mídia. Muitos de nós tentam dar voz ao centro, mas os radicais falam mais alto. A mídia não tem mais o poder de direcionar um voto para um determinado candidato ou partido. Isso é muito novo.
A comparação entre a PJ e o espaço de Lula da Silva
É correto dizer que Lula é muito mais que o PT e que o PT é muito menos que o peronismo?
O peronismo é a segunda alma da Argentina, mas o PT não é no Brasil. É um fenômeno recente e não tem o impacto histórico do peronismo na Argentina. Porém, Lula sempre foi a última palavra no PT. O que nos preocupa agora é que isso poderia influenciar o ambiente de Lula muito mais do que no passado.
Talvez agora ele não seja mais o grande líder, sim das massas, mas não dentro do PT. É por isso que há um pouco de medo, mas as instituições são fortes. A composição do Congresso ficou com uma centro-direita muito forte e os mercados reagiram maravilhosamente porque entenderam que será uma força estabilizadora muito importante.
JL PAR
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.
*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.