“Em abril de 2022, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib, a qual eu ocupava o cargo de coordenadora executiva até agosto do último ano, fez um chamado para que nós, povos indígenas, assumíssemos o compromisso de aldear a política nacional para ocuparmos os espaços de tomada de decisão e assim garantir políticas públicas pensadas e executados por nós, povos indígenas. Assumi esse compromisso, não como um projeto pessoal, mas com o objetivo coletivo de garantir nossos direitos. Assim, me candidatei a deputada federal pelo estado de São Paulo e venci a eleição como a primeira mulher indígena eleita no estado e a indígena mais votada do Brasil, uma grande conquista.
Dias depois, com a eleição do presidente Lula e as especulações acerca dos nomes que integrariam seu governo, eu já era a líder indígena mais cotada a assumir o primeiro ministério dos povos indígenas do Brasil. É claro que eu me sentia honrada com essa possibilidade, mas naquele momento essa ainda era apenas uma possibilidade. Foi então que, em 29 de dezembro, Lula me chamou e oficializou o convite que, com muita alegria, eu aceitei. Aceitei porque trazia comigo o chamado de aldear a política nacional e sabia que, para que esse chamado se torne realidade, nós povos indígenas precisamos estar em todos os espaços, seja no legislativo, judiciário ou executivo. Aceitei também porque, vejo neste governo um espaço inclusivo para mulheres em cargos do alto escalão, mulheres competentes, que assim como eu, têm pouca ou nenhuma vivência na política tradicional mas, que dedicaram sua vida em movimentos sociais, trabalhando duro na construção de uma sociedade na qual acreditam para si e outras mulheres.
Por isso, é uma honra e um privilégio para mim, fazer parte desse momento histórico onde mulheres com toda sua pluralidade e diversidade, ocupam as mais diversas frentes na política brasileira. Sei que ainda não é o ideal, que ainda há muito mais homens do que mulheres nesse meio, mas acredito verdadeiramente que subimos mais um degrau na igualdade de gênero na política. Igualdade mais do que necessária para construirmos um país cada vez mais justo e preocupado com mulheres, meninas, mães e os diversos tipos de família que compõem nossa sociedade. É fundamental poder contar com mulheres ocupando cargos políticos, pois somos nós quem genuinamente compreendemos o que precisamos. No meu discurso de posse eu afirmei, – me referindo a nós, povos indígenas – que ‘nunca mais um Brasil sem nós’. Aqui, pensando sobre a importância da mulher na política, por mais difícil que seja, pois sabemos o quão opressor e machista é o ambiente político, ainda sim eu também declaro “somos mulheres competentes e comprometidas com um Brasil melhor, por isso, nunca mais um Brasil sem nós.”
* Sonia Guajajara é ministra dos Povos Indígenas