O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e a Secretaria de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde assinaram, hoje (13), um protocolo de intenções para implementar o projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais. O projeto estabelece uma rede de colaboração interinstitucional, com a participação de integrantes nacionais e internacionais dos setores governamental, não governamental e privado, na busca da melhoria da cobertura vacinal brasileira. Por causa da sua trajetória no fornecimento de produtos para o Sistema Único de Saúde (SUS) e, ainda, na busca de soluções para o presente e o futuro da saúde pública, a coordenação do projeto está com Bio-Manguinhos/Fiocruz ao lado da secretaria.
De acordo com a Fiocruz, apesar de ser considerado um dos mais efetivos programas de imunização do mundo e dos esforços permanentes para manter o abastecimento das vacinas incluídas nos Calendários de Vacinação do país, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) “vem enfrentando um cenário adverso para alcançar as taxas de cobertura vacinal necessárias à imunidade coletiva das vacinas que disponibiliza”.
Para o diretor de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, retomar as altas coberturas vacinais é evitar óbitos decorrentes de doenças para as quais já existem vacinas, como ocorreu nos últimos anos com a febre amarela e o sarampo.
“É otimizar o atendimento hospitalar, liberando leitos que são ocupados por doentes infectados, por exemplo, pela influenza – como ocorre agora no Grande Rio. É também dar previsibilidade à demanda por vacinas, garantindo o abastecimento necessário ao PNI. Demos respostas e realizamos entregas recordes nestes surtos recentes, mas muitas vidas perdidas, os dramas familiares e os custos de hospitalização no SUS poderiam ter sido evitados com a vacinação”, disse.
O projeto prevê ações de apoio estratégico ao PNI para reverter a trajetória de queda nas coberturas vacinais dos calendários nacionais de Vacinação da Criança, do Adolescente, do Adulto e ldoso, da Gestante e dos Povos Indígenas. Conforme a Fiocruz, a mudança é necessária para assegurar o controle de doenças imunopreveníveis como o sarampo, a poliomielite, a gripe, o câncer de colo do útero, as meningites e todas as outras cujas vacinas são disponibilizadas gratuitamente para a população, nos postos de saúde.
Alertas
A Fiocruz chamou atenção para os alertas que especialistas em imunização e em vigilância em saúde de diferentes instituições governamentais e não governamentais vêm emitindo nos últimos anos, sobre a queda progressiva da cobertura vacinal no Brasil, cenário que foi agravado pela pandemia da covid-19. Mas há outros fatores que influenciam esse cenário, como o desconhecimento da gravidade dessas doenças por parte da população, inclusive em função do próprio sucesso do PNI; as fake news, que repercutem na hesitação em vacinar; e também por problemas estruturais no país.
“O alerta da baixa cobertura vacinal vem acompanhado pela reintrodução de doenças imunopreveníveis como o sarampo”, informou a Fiocruz.
De acordo com a Fiocruz, faz cinco anos que as coberturas vacinais vêm caindo em todo o mundo, inclusive no Brasil. Em função disso, em 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a hesitação vacinal como um dos dez maiores problemas de saúde pública no mundo.
Medidas
Entre as medidas que o projeto vai desenvolver estão a organização das informações existentes sobre as causas das baixas coberturas vacinais, entre 2015 e parte de 2021, em 16 municípios do Amapá e em 25 municípios da Paraíba. Será elaborado, em conjunto com estados e municípios, o plano de ação operacional de imunizações até 2025 para cada município.
Haverá ainda o apoio à busca de soluções para gargalos e dificuldades das condições locais, e promoção do compartilhamento das melhores práticas. Está previsto o acompanhamento e o monitoramento da execução dos planos municipais e fortalecimento do intercâmbio das melhores práticas entre os estados e municípios, incluindo o reforço na integração de dados e do sistema de informação e comunicação entre Coordenação Nacional, coordenações estaduais e coordenações municipais de imunizações.
A escolha do Amapá foi porque o estado é o que tem mais casos de sarampo. Já a Paraíba é por causa da facilidade logística, uma vez que o instituto tem ampla rede de colaboração prévia com instituições paraibanas para a realização de estudos clínicos.
A expectativa é concluir até março de 2022 o primeiro resultado esperado, que é a elaboração dos planos de ação desses dois estados, com o mapeamento das causas das baixas coberturas vacinais por município pesquisado; e a elaboração, em conjunto com os estados e municípios, dos primeiros 41 planos de Ação Operacional de Imunizações.
Segundo a Fiocruz, o PNI oferece para toda a população vacinas de alta qualidade para combater mais de 20 tipos de doenças, registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e aprovadas pelo INCQS/Fiocruz.
“O Programa foi responsável pela erradicação da varíola, a eliminação da poliomielite, da rubéola, da síndrome da rubéola congênita e do sarampo – que, infelizmente, retornou com a baixa cobertura vacinal, atingindo as populações suscetíveis. Temos hoje o menor número de notificações de doenças imunopreveníveis da história da saúde pública brasileira”, disse a Fiocruz.
(Agência Brasil)