ANÁLISE

Quem é o culpado pela decisão de Milei?

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Javier Milei – Crédito: Cedoc

Milei não é o problema, ele é apenas um instrumento. Poderia ter sido Miguel del Sel, o comediante candidato do PRO que quase conquistou o governo de Santa Fé em 2015, aliás, assim como Milei, ele havia vencido aqueles PASO com 32,2% do total de votos, mas naquela época nossa sociedade eu não tinha atingiu o nível atual de exaustão. 

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Ou qualquer outro Coringa vernáculo. Esse papel no século XX foi ocupado pelos militares, cujos comandantes, os que não sabiam que não sabiam, ou seja, os mais ignorantes e por isso acabaram governando, não estavam mais preparados para a administração do público do que Del Sel ou Milei.

Eu os conheci, sou um representante da última geração de jornalistas que veio dialogar com os comandantes da última ditadura. Alguns brutos, grosseiros, rudes, comuns. A sua grosseria, mais do que o mal, deve-se à sua monumental ignorância: o mal é pior quando é fruto da ignorância. Sei que é polêmico dizer que antes de serem maus eram bestiais, mas tive a mesma sensação que Hannah Arendt teve ao se deparar com Eichmann e sua perfeita descrição da banalidade do mal.

Lembro-me literalmente do rosto de Videla, da simplicidade dos seus argumentos, dos olhos brilhantes e do sorriso ganancioso de Massera, acreditando-se um estrategista, e do cinismo de Harguindeguy, equivalente no seu papel atual ao de Patricia Bullrich naquele governo. Nomes que hoje nada representam e parecem ter sido retirados de um baú do além-túmulo, mas dos quais tenho a viva lembrança de tê-los visto cara a cara.

Graças a Deus eles são uma memória evanescente prestes a desaparecer. Mas eram apenas representantes de uma cadeia de significantes construída pela necessidade de uma parte importante da sociedade, não tão minoritária, rejeitar violentamente o peronismo, também como significante de algo muito maior, que o transcendia.

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Pode ser um exagero encontrar algum ponto de ligação entre essas forças armadas primitivas e, portanto, ainda mais calamitosas, com a eleição de Milei como presidente, mas existe um: o desejo de votar, apoiar, promover qualquer veículo independentemente das suas características, com para que transporte nossas ideias. O velho erro de “os fins justificam os meios”.

Quando falamos em ditadura civil-militar, dói. Muito melhor é encapsular o mal nesses ditadores diabólicos e não vê-los como instrumentos medíocres de um momento triste em nossa sociedade. Na longa reportagem desta edição sobre a ex-prisioneira da Escola de Mecânica da Marinha, Silvia Labayru , é descrito detalhadamente o delírio, e não apenas a maldade, daqueles ditadores. Enquanto fazia o relatório não conseguia parar de pensar no presente e no quanto, caso contrário, fechamos os olhos às falhas estridentes daqueles que nos governam.

 * Leia a coluna completa em Perfil.com 

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