
O Papa Francisco tem experiência com líderes políticos cômicos. Chegou a Roma com o surgimento do Movimento Cinco Estrelas, fundado e liderado pelo comediante Beppe Grillo, que se tornou o partido com maior número de representantes no Parlamento.
As semelhanças entre Beppe Grillo e Javier Milei são perceptíveis. Foi o comediante italiano quem primeiro usou a motosserra como símbolo eleitoral. Entre suas excentricidades está sua luta por “um Parlamento limpo” (de castas) expressado em um V-Day, no extenso Vaffanculo Day (Dia do f**a-se) que é simbolicamente associado ao “fo**-se” de Milei no final de seus discursos. Os tradutores do discurso de Milei em Davos traduziram seu “droga” como “droga”. Algo como “dane-se” ou “vá para o inferno”.
O Papa, que receberá Javier Milei no Vaticano no próximo sábado, disse não ter ficado ofendido com os insultos passados do atual Presidente argentino. Ele ressaltou que “as palavras na campanha eleitoral vão e vêm”. Endurecido por anos de propostas de Beppe Grillo, como a eleição de candidatos por sorteio, que nunca é implementada porque a burocracia estatal limita e ordena quem ganha as eleições, pode-se supor que o mesmo acontecerá com Milei, que o que ele diz é apenas para chamar a atenção sabendo que não poderia ser aplicado.
Na Itália surgiu o fascismo e o filósofo Theodor Adorno em seus Escritos Sociológicos escreveu “Estudos sobre a personalidade autoritária”.
Adorno, um dos ‘alma maters’ da Escola de Frankfurt, crítico do “acionismo” e autor da Dialética do Iluminismo e da Dialética Negativa, dedicou-se a estudar o “indivíduo potencialmente fascista, alguém cuja estrutura é tal que o torna um indivíduo especialmente vulnerável”. à propaganda antidemocrática.”
Adorno, falecido em 1969, não viveu o ressurgimento da extrema direita popular, mas deixou claro que “nenhuma outra tendência político-social representa uma ameaça maior aos nossos valores e instituições tradicionais”.
Para o diagnóstico de “fascismo potencial”, Adorno sustentou que “estas ideologias têm diferentes graus de sedução para diferentes indivíduos, dependendo das necessidades do indivíduo e do grau em que estão a ser satisfeitos ou frustrados”. Além de distinguir “ideologia-em-disposição” (receptividade ideológica) de “ideologia-em-palavras-e-ação”, ele sustentou que “as forças da personalidade não são respostas, mas disposições para a resposta: que uma disposição é se é ou não se expressa abertamente depende não apenas da situação do momento, mas também de outras disposições que lhe sejam contrárias”.
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** Jorge Fontevecchia é jornalista, fundador de Perfil.com e CEO da Rede Perfil