pioneiro

Tratamento contra TOC é implantado em cérebro pela primeira vez no Brasil

Chamado de DBS (Deep Brain Stimulation), o dispositivo funciona como um “freio” capaz de ajudar a interromper padrões de pensamentos distorcidos da realidade

O implante DBS funciona através da inserção de eletrodos extremamente finos em áreas específicas do cérebro associadas aos sintomas do TOC
Tratamento contra TOC é implantado em cérebro – Crédito: Arquivo pessoal / Wuilker Knoner Campos

No dia 27 de dezembro de 2023, no Hospital SOS CARDIO em Florianópolis (SC), foi realizado um procedimento pioneiro. O implante cerebral para tratar o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma condição que leva o paciente a viver em um quarto escuro, sentindo-se constantemente perseguido. Além disso, este transtorno causa padrões de pensamentos, imagens e impulsos indesejados, trazendo sofrimento e, em muitos casos, levando ao isolamento social.

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A princípio, o novo tratamento está sendo conhecido como DBS – Deep Brain Stimulation (Estimulação Cerebral Profunda). Ele atua como um “freio”, interrompendo esses padrões de pensamentos através da eletroestimulação das áreas do cérebro responsáveis por eles. Este avanço oferece esperança para aqueles que sofrem com o TOC, oferecendo uma oportunidade de alívio e melhora na qualidade de vida.

Em entrevista ao Viva Bem, do UOL, o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, explica que: “a escolha de um paciente para o implante de DBS no tratamento do TOC foi baseada no diagnóstico de TOC grave e crônico que não obteve sucesso com tratamentos convencionais, como medicamentos, terapia e eletroconvulsoterapia (ECT)”. Ele foi o responsável pela aplicação desse primeiro implante.

Como o implante age?

O implante DBS funciona através da inserção de eletrodos extremamente finos em áreas específicas do cérebro associadas aos sintomas do TOC. Ou seja, esses eletrodos emitem pulsos elétricos controlados, normalizando a atividade neural disfuncional relacionada ao transtorno e aliviando os sintomas.

Para realizar o procedimento, o profissional faz uma pequena abertura no crânio, do tamanho de uma moeda, para passar os eletrodos. Dessa forma, o cirurgião os guia através de cortes específicos até atingirem o alvo final. O responsável pelo procedimento menciona que a cirurgia geralmente tem duração média de cerca de quatro horas.

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“O paciente entra no centro cirúrgico para colocação de um arco que se fixa no crânio, com sedação e anestesia local. Depois segue para tomografia computadorizada do crânio. Depois da tomografia, puxa-se as imagens do sistema e fazemos a fusão das imagem com a ressonância do paciente”, diz Wuilker.

Indicações para o tratamento de TOC

A princípio, a indicação parte da equipe de psiquiatria, que recomenda o procedimento em casos onde o tratamento clínico com medicamentos, terapia e ECT (eletroconvulsoterapia) não produziram resultados satisfatórios.

Este avanço médico é particularmente crucial para tratar casos mais complexos. O psiquiatra Flávio Henrique (UFPI), membro do CPAH (Centro de Pesquisa e Análises Heráclito), destaca que certos sintomas do transtorno podem comprometer o autocontrole e representar riscos significativos, por exemplo: “pode ser perigoso, uma vez que pessoas com TOC também podem ter pensamentos intrusivos relacionados a temas sexuais, religiosos ou violentos”.

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Durabilidade

O TOC é uma condição crônica que não possui cura e requer tratamento ao longo da vida do paciente. Assim como uma pessoa com diabetes que depende de insulina, explica Wuilker. Dessa forma, durante o período pós-operatório, uma equipe de psiquiatria acompanha o paciente, realizando ajustes em conjunto com a equipe técnica do dispositivo por meio de um tablet que se comunica por bluetooth.

O gerador torácico, também implantado durante a cirurgia, tem uma vida útil de cinco a dez anos. Após esse período, é necessário substituí-lo, mas o procedimento é menos invasivo, não exigindo novas incisões na cabeça. Nesse caso, são utilizadas anestesia local e sedação.

Realiza-se o tratamento com DBS para doenças como Parkinson, distonias e epilepsia. Por fim, o valor é cobrado dos planos de saúde, e esse dispositivo pode custar em média R$ 100 mil. Tanto na rede privada quanto no SUS.

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*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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