Muito tem sido discutido sobre a presença do glúten nas dietas. Essa proteína, encontrada em cereais como trigo, cevada e centeio, tem recebido especial atenção tanto de profissionais de saúde quanto de influenciadores digitais. Estes últimos, muitas vezes, promovem dietas sem glúten com a promessa de melhorar a qualidade de vida, perdendo peso e potencializando o desempenho esportivo.
Pesquisas indicam que o mercado de produtos sem glúten tem crescido exponencialmente, motivado pela crença de que esses alimentos seriam intrinsecamente mais saudáveis. Um estudo realizado pela Academia Espanhola de Nutrição e Dietética revelou que 8% da população do país segue uma dieta sem glúten, sendo que 72% destas pessoas não tem um motivo para isso.
No entanto, para pessoas sem condições específicas relacionadas ao glúten, tais como doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, os benefícios de uma dieta isenta dessa proteína não são claros e podem, inclusive, ser contraproducentes sem o acompanhamento adequado.
A doença celíaca é uma condição sistêmica crônica que afeta várias partes do corpo, incluindo o sistema nervoso, endócrino e cutâneo. Essa patologia pode prejudicar gravemente indivíduos geneticamente predispostos, manifestando-se em cerca de 1% da população. O único tratamento conhecido é uma dieta rigorosa e permanente sem glúten.
Dieta sem glúten: um modismo arriscado?
Apesar de algumas pessoas apresentarem melhorias na saúde ao adotarem uma dieta sem glúten, essa abordagem pode levar a deficiências nutricionais se não for bem planejada. Pessoas sem necessidade clínica comprovada que seguem uma dieta sem esta proteína podem se expor a riscos desnecessários de saúde.
A escolha por alimentos processados sem glúten pode ter repercussões negativas, como aumento nos níveis de colesterol e maior risco de doenças metabólicas, devido ao alto conteúdo de açúcares e gorduras de baixa qualidade nestes alimentos.
Se uma pessoa começa uma dieta sem glúten sem as direções necessárias e logo depois decide consultar um médico, ela pode ser diagnosticada erroneamente, já que o organismo poderá não apresentar mais os sinais de alguma doença devido à adaptação.
Pessoal, nunca tirem glúten da dieta sem investigar celíaca antes.
Isso porque se você for realmente celíaco pode haver normalização dos exames dos anticorpos e da biopsia duodenal e aí quando você dosar e vier normal não saberá se nunca foi celíaco ou se era e normalizou.
— Gustavolima (@DrGustavolima) November 3, 2023
Como identificar informações precisas?
É essencial que a fonte de qualquer aconselhamento dietético seja sempre confiável. Um estudo internacional ilustrou como as informações podem influenciar erroneamente os hábitos alimentares, em particular entre mulheres. No universo de alimentos e dietas, mistificações podem levar a escolhas de saúde mal informadas e desnecessárias. Cerca de 2,7 milhões de pessoas na Espanha, por exemplo, eliminam a proteína de suas dietas sem necessidade médica, impactando negativamente sua vida social e economia doméstica.
O ideal é consultar profissionais de saúde qualificados antes de decidir excluir o glúten ou qualquer outro componente da dieta. Isso evita o autodiagnóstico e garante uma transição segura e saudável, se necessária.