Atriz, inventora e mulher à frente do seu tempo – esta foi Hedy Lamarr. Mente por trás da tecnologia que possibilitou a comunicação sem fio, ela também estrelou em vários filmes icônicos da era de ouro de Hollywood, como “Êxtase” e “Sansão e Dalila”.
A vida antes da fama
Nascida Hedwig Eva Maria Kiesler na Áustria, em 1914, ela se interessava por invenções tecnológicas desde pequena. Porém, sob a influência da mãe pianista, optou por se dedicar a atividades artísticas. Eventualmente, conseguiu pequenos papéis em produções independentes checas e alemãs.
Em sua terra natal, um dos trabalhos pelo qual mais chamou atenção do público foi o filme “Êxtase”, de 1933. Dirigido por Gustav Machatý, se tornou o primeiro longa na história a exibir um nu integral e uma cena de um orgasmo feminino.
Sua vida mudaria bruscamente depois de se casar com Friedrich Mandl, dono da Hirtenberger Patronen-Fabrik, fábrica de armas e munições militares, e um homem com muita influência. A união ocorreu por amor, mas foi também uma estratégia para a artista se proteger das antissemitismo que crescia na Alemanha. Seu marido, apesar de não ser judeu, discordava dos ideais de expansão da nação.
Ainda assim, Hedy não estava completamente a salvo. Mandl era um homem extremamente possessivo e controlador, que obrigava a esposa a acompanhá-lo em eventos sociais para mantê-la à sua vista.
Antes do início da Segunda Guerra Mundial, seu marido havia estabelecido uma parceria comercial com Benito Mussolini. Quando o político italiano instaurou sua ditadura no país, ele se tornou um cliente fiel da fábrica de munições.
Entretanto, com o passar do tempo, Mandl passou a negociar com os alemães. Em 1940, oficializou sua aliança aos nazistas e, consequentemente, a Itália se tornou um dos principais membros do Eixo.
Planos de fuga
Vendo o que iria acontecer se ela ficasse na Áustria, Hedy decidiu abandonar seu casamento e fugir para os Estados Unidos. Cuidadosa, ela havia traçado um plano de várias etapas: contratou uma criada com um porte parecido com o dela, comprou um carro usado para sua criada e guardou a mesada que recebia do marido. A atriz executou a fuga na noite de um jantar importante, pois estaria usando joias valiosas. Fingiu um mal-estar durante a refeição, apelando para o desejo do marido de vê-la grávida. Mandl permitiu que ela fosse descansar.
Uma vez em casa, pediu um chá para sua funcionária, e colocou sonífero na xícara dela. Vestindo as roupas da criada, foi até a França de carro, viajou até Londres e embarcou rumo aos Estados Unidos.
O risco valeu a pena. Em Hollywood, encontrou com Louis B. Mayer, chefe do estúdio MGM, e, depois de negociar com um dos homens mais poderosos da indústria do cinema, fechou um contrato impressionante para uma novata. Sua carreira decolou, e ela protagonizou mais de 30 obras diferentes.
Atriz e também inventora
Hedy tinha informações privilegiadas sobre o armamento alemão por sua convivência com Mandl. Uma das maiores fraquezas do exército nazista eram os torpedos, que eram imprecisos e ficavam suscetíveis à interferência de sinal de outros navios.
A artista se deu conta disso durante uma sessão de música com o compositor George Antheil em uma festa. Tocando um dueto improvisado no piano, era como se ele transmitisse um sinal (submarino) e ela seguisse (torpedo). Então, Hedy pensou que, se o marinheiro e o torpedo mudassem de frequência de rádio várias vezes seguidas, era praticamente impossível obstruir essa comunicação.
Em 1940, apresentou a invenção ao Conselho Nacional de Inventores. Após análise, o presidente do grupo recomendou que a Marinha dos Estados Unidos incorporasse seu sistema.
Entretanto, em decorrência do preconceito contra a descoberta feita por uma mulher,sua tecnologia só foi utilizada a partir de 1962. Ainda assim, seu invento serviu de base para várias tecnologias de comunicação usadas amplamente hoje em dia, como o wi-fi e o GPS.