Modo Fontevecchia

Bruno Bimbi: “O debate presidencial no Brasil foi um circo de horrores”

Jornalista argentino analisou o último debate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e relembrou experiência no Brasil.

(Crédito: Reprodução/ Agência Brasil)

“O assassinato de Marielle foi, de certa forma, o início da ascensão de Bolsonaro ao poder”, disse Bruno Bimbi, jornalista que viveu no Brasil no início do governo de Jair Bolsonaro.  Além disso, durante entrevista ao programa Modo Fontevecchia, transmitido pela TV, rádio e YouTube,  ele afirmou acreditar que o atual presidente “construiu todo o seu governo com base na mentira, no ódio e na violência”.

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Conte-nos sobre sua experiência no Brasil, de quando você deixou o país no início do governo Bolsonaro e o que você viu à distância nos últimos anos.

Morei no Brasil por mais de dez anos, fiz minha pós-graduação lá, trabalhei como correspondente do canal Todo Noticias (TN) e como assessor do deputado de esquerda, ativista do movimento LGBT, Jean Wyllys.

Os últimos anos foram realmente muito difíceis, principalmente depois do golpe parlamentar contra Dilma Rousseff em 2016. O crescimento desses grupos de extrema direita ligados a milícias, gangues de assassinos de aluguel, pastores evangélicos fundamentalistas, coalizão de grupos muito perigosos, que acabou resultando na candidatura de Bolsonaro. Esses grupos criaram um clima em que era inviável viver no Brasil.

Nos últimos meses que passei no país, junto com Jean, passamos a circular com carro blindado e segurança armado, pois constantemente recebíamos ameaças de morte contra ele e sua família. Isso depois que assassinaram, com quatro tiros na cabeça, nossa camarada Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, líder política muito jovem, nascida na favela, socióloga, lésbica e negra. Representava tudo o que essas pessoas odeiam.

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O assassinato de Marielle foi, de certa forma, o início da ascensão de Jair Bolsonaro ao poderAs coisas ficaram cada vez mais pesadas. Lembro que na minha última campanha no Brasil, tivemos que retirar Jean em momentos que apareciam pessoas com camisetas de Bolsonaro e revólver na cintura, eram situações de grande violência. Eles tem a propagação de mentiras como o eixo estrutural da sua política, algo muito característico do fascismo.

Nós dois decidimos ir embora. De fato, Jean havia sido reeleito deputado por mais quatro anos, e decidiu renunciar à bancada e deixar o país devido às ameaças contra ele e sua família.

Você assistiu ao debate presidencial ontem? Pode nos dar sua impressão?

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O debate presidencial de ontem foi um circo de horrores. Assisti a todos os debates da campanha presidencial no Brasil, desde 2006 até hoje. Vi Lula debatendo com Geraldo Alckmin, que o confrontou em 2006 e agora é seu vice-candidato. Os debates de Dilma com Aécio Neves. Nos últimos 13 anos, também vi debates de candidatos a governador, prefeitos, etc. Conheço muito bem o sistema de debate no Brasil e nunca tinha visto nada parecido com o que vi ontem.

Todos os debates anteriores, mesmo com diferenças ideológicas e políticas muito grandes, foram debates entre políticos profissionais, entre pessoas educadas e civilizadas. Ontem foi algo completamente diferente. Bolsonaro passou o debate mentindo a cada dez segundos.

No livro “Uma Breve História das Mentiras Fascistas”, do professor argentino Federico Finchelstein, vemos que mentir sempre fez parte da política, a maioria dos políticos falam mentiras em algum momento. Mas no fascismo, a mentira está em outro nível. Não é o tipo de mentira que se pensa, é algo muito mais profundo que da estrutura ao seu discurso.

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Bolsonaro construiu todo o seu governo baseado em mentiras, ódio e violência. Durante a pandemia, ele disse que a Covid-19 não existia, que era mentira, uma invenção da imprensa. Mais tarde, ele disse que foi uma gripezinha que não faz nada. Depois ele inventou uma droga milagrosa, que todos os cientistas rejeitaram, e enviou o exército para comprar toneladas desse remédio, que foi fabricado por um de seus doadores de campanha e distribuído sem receita médica.

Ele fez campanha contra a quarentena, contra o uso de máscaras, contra todas as recomendações da saúde. E chegou a dizer a certa altura, e repetiu ontem no debate, que os médicos mandavam enterrar pessoas que tinham morrido de outra coisa, dizendo que tinham morrido de Covid-19, porque assim recebiam mais fundos. Todo o governo Bolsonaro foi uma coleção de mentiras, e o debate de ontem também.

FM PAR

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*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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