SECA NO PAÍS

Estiagem prolongada afeta agricultura e impacta preços no Brasil

O quadro de estiagem no Brasil é consequência de uma mistura de eventos climáticos, como o El Niño e o aquecimento do oceano Atlântico Tropical Norte

Estiagem prolongada afeta agricultura e impacta preços no Brasil
A falta de chuvas prejudica especialmente os pequenos produtores, que muitas vezes não possuem sistemas de irrigação – Créditos: depositphotos.com / fotokostic

De acordo com um recente estudo, a estiagem no Brasil já se prolonga por 12 meses e seus efeitos acumulados refletem na agropecuária do país. A falta de chuvas prejudica especialmente os pequenos produtores, que muitas vezes não possuem sistemas de irrigação. Apenas cerca de 13% das áreas agrícolas no Brasil utilizam esse tipo de estrutura, sendo a maioria delas de grandes produtores voltados para exportação.

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No entanto, é a agricultura familiar a principal responsável pelo alimento que chega até a mesa dos brasileiros, correspondendo a cerca de 70% dessa quantidade. Durante esta época do ano, grande parte dos alimentos está no período de entressafra. Por isso, acompanhamos o cenário da criação bovina de pasto, do feijão, que está na época de safrinha, e da laranja, que sofre com a seca há cinco anos.

A seca prolongada tem causado sérios impactos na produção agrícola do Brasil, e os reflexos já podem ser observados na oferta e nos preços dos alimentos. Pequenos agricultores, que são responsáveis por grande parte da alimentação interna, se encontram em dificuldades cada vez maiores, especialmente sem infraestrutura adequada para lidar com a falta de água. Vamos entender como a seca tem afetado três produtos chaves: feijão, carne bovina e laranja.

Por que a estiagem no Brasil afeta tanto a produção de feijão?

A escassez de chuvas prejudica diretamente a produção de feijão carioca, o mais popular entre os brasileiros. De acordo com Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), das últimas 10 safras, aproximadamente 8 foram perdidas devido à seca. Como o ciclo de cultivo dessa leguminosa é curto — em torno de 70 dias — mesmo períodos curtos sem chuva podem comprometer toda a colheita.

Além disso, a seca facilita a proliferação de pragas, como o mosaico-dourado, doença viral transmitida pela mosca-branca. Tudo isso tem causado um prejuízo significativo, com uma perda de cerca de 15% na segunda safra do grão. Esse cenário pode fazer com que o feijão carioca chegue ao final do ano até 40% mais caro para os consumidores.

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Como a seca afeta o preço da carne bovina?

O preço da carne bovina também deve subir, já que a seca deixou os pastos degradados. Isso atrasa o processo de engorda dos animais, fazendo com que a carne chegue mais tarde ao mercado e diminuindo a oferta. Fernando Henrique Iglesias, economista analista da consultoria Safras & Mercado, explica que a seca não apenas diminui a quantidade de pasto, mas também afeta sua qualidade, impactando toda a cadeia de produção.

Além disso, os incêndios são mais frequentes durante períodos de seca, e isso pode queimar o estoque de alimentos dos criadores. Com uma demanda elevada por carne no mercado internacional, a disputa dentro do Brasil se torna mais acirrada, pressionando os preços para cima.

 

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Laranja também sofre com a estiagem no Brasil?

A produção de laranja também vem sendo afetada pela falta de chuvas, além das altas temperaturas e da incidência da doença “greening”. Esses fatores reduzem a qualidade e produtividade das frutas. Nos últimos 12 meses, os preços dos sucos de frutas aumentaram 7,46% e o preço da laranja pera subiu 41,12%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA).

Para uma boa safra de laranja, é necessário um equilíbrio de condições climáticas, como um período de estresse hídrico seguido de chuvas. No entanto, as altas temperaturas acima de 35°C provocam um desequilíbrio hormonal nas plantas, resultando no abortamento dos frutos. A falta de chuvas e as temperaturas elevadas resultaram em uma queda significativa no número de frutos por área, impactando ainda mais a produção.

Por que a irrigação não resolve todos os problemas?

A irrigação pode minimizar alguns dos efeitos da seca, mas não resolve todos os problemas. Cerca de 38% dos pomares adultos no Cinturão Citrícola são irrigados, o que deixa a maioria da produção dependente dos períodos de chuvas. Mesmo nas áreas irrigadas, ondas de calor severas podem afetar negativamente a produção.

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Para resolver essas questões, é importante que os produtores implementem técnicas alternativas, como o uso de águas de reuso e cuidados com o solo para manter a umidade. No entanto, essas soluções também demandam recursos, muitas vezes inacessíveis para pequenos agricultores.

O quadro de estiagem no Brasil é consequência de uma mistura de eventos climáticos, como o El Niño e o aquecimento do oceano Atlântico Tropical Norte. A previsão para os próximos meses não indica uma melhora significativa na situação, com possibilidade de apenas pequenas chuvas. O desmatamento na Amazônia também tem contribuído para esse cenário, já que a floresta ajuda a distribuir umidade pelo país.

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