inflação

Qual o impacto das queimadas no preço de alimentos, como açúcar e feijão?

A morte de animais, a perda de culturas agrícolas e danos em infraestruturas rurais e urbanas são algumas das consequências mais imediatas das chamas

Barroso disse que tem informações técnicas que confirmam que todas as queimadas na Amazônia e no Pantanal são provocadas pela ação humana
Barroso disse que tem informações técnicas que confirmam que todas as queimadas na Amazônia e no Pantanal são provocadas pela ação humana – Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

Com o pasto seco e milhares de focos de queimadas no país, o custo dos alimentos já aumentou e deve continuar subindo nos próximos meses. Produtos como açúcar, suco de laranja, carnes, leite e derivados estão entre os mais afetados pela alta dos preços. Pecuaristas também enfrentam desafios para manter a alimentação do gado.

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De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Esalq/USP, a escassez de chuva tem afetado a oferta de animais criados a pasto, obrigando os produtores a adotarem o confinamento, uma solução mais cara.

Esse cenário impacta diretamente o preço da carne nos supermercados. Em Porto Alegre, por exemplo, a falta de pasto e as queimadas levam a um aumento na necessidade de ração, encarecendo a criação de gado. Uma das principais consequências é o aumento no valor de produtos derivados do leite, como manteiga, requeijão e iogurte.

Andre Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV IBRE, confirma ao site UOL que a situação atual também pressiona os preços do leite e seus derivados. Ele explica que a demanda por outras carnes, como a suína e a de frango, deve aumentar, mas não a ponto de causar uma inflação descontrolada. “Vamos manter o teto de 4,5%. O ideal seria o centro, no percentual de 3%”, prevê o especialista.

A produção de alimentos, tanto na pecuária quanto na agricultura, está em crise. As queimadas têm atingido proporções alarmantes, causando grandes prejuízos. A morte de animais, a perda de culturas agrícolas e danos em infraestruturas rurais e urbanas são algumas das consequências mais imediatas, mas as perdas também afetam propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos.

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Açúcar e feijão mais caros

As queimadas que afetam diversas regiões do Brasil estão impactando os preços de alguns produtos na Bolsa de Valores, entre eles o açúcar cristal e refinado. “A alta chegou a 2,36% em média na semana passada. O mercado interno equivale a 25% do consumo. O restante, 75%, vai para a exportação. Todos sentirão a alteração nos valores da compra”, explica a economista e professora Luciana Rosa de Souza, da Universidade Federal de São Paulo (Eppen/Unifesp), ao site UOL.

Em São Paulo, aproximadamente 80 mil hectares de canaviais e áreas de rebrota foram destruídos pelo fogo, gerando prejuízo de R$ 800 milhões, segundo a estimativa mais recente da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

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O Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, também é o líder global em exportações no setor sucroalcooleiro. Até agora, o país já registrou mais de U$ 8,69 bilhões em exportações de açúcar bruto neste ano.

O feijão é outro alimento que sofre com a inflação. Luciana Rosa de Souza prevê que o aumento no atacado pode chegar a 40% até o fim do ano. Esse impacto deve refletir no varejo, uma vez que as perdas são repassadas ao consumidor.

Apesar disso, a economista não acredita que haverá escassez nas prateleiras dos supermercados. “Todas as perdas que os agricultores tiveram acabam elevando os preços porque eles trabalham com margem de lucro e muitos riscos. Se eles não ganham, não há incentivo para voltar a plantar”, explica.

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Solo após queimadas

Pesquisas indicam a perda significativa de nutrientes como carbono, nitrogênio, potássio e enxofre para a atmosfera. Essas mudanças comprometem a qualidade do solo e a produtividade no longo prazo. A perda da cobertura vegetal aumenta a absorção de radiação solar durante o dia, causando ressecamento, enquanto à noite, a exposição leva à perda de calor.

As variações térmicas diárias prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo. Sem a cobertura vegetal, o solo fica mais vulnerável às oscilações de temperatura, o que afeta diretamente sua fertilidade e, consequentemente, a produção agrícola.

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