Um casal gay denunciou um ateliê do interior de São Paulo que se recusou a fazer “convites homossexuais” de casamento. Em prints divulgados que mostram a conversa entre a loja e Henrique Nascimento, a empresa pede para que o rapaz procure outro lugar para fazer os convites. “Seria bacana você procurar uma papelaria que atenda sua necessidade”, escreveu o Jurgenfeld Ateliê como resposta.
[HOMOFOBIA]
um casal de amigos meus, que está pra casar, compartilha sempre os momentos felizes conosco e desta vez chegou o momento de escolher os convites de casamentoSó que receberem de um fornecedor a mensagem de que “não fazem convites homossexuais”
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— irmã do litrinho (@litraooo) April 23, 2024
Após o caso repercutir nas redes sociais, a empresa se posicionou e disse seguir princípios cristãos, alegando não se tratar de “homofobia ou qualquer tipo de preconceito, mas sim de princípios e valores”. Em um post apagado, o ateliê fala sobre “heterofobia”, que seria o preconceito contra heterossexuais, já que os donos da empresa são uma mulher e um homem.
Ao UOL, Henrique, de 29 anos, e Wagner Soares, de 38 anos, afirmaram que vão registrar um boletim de ocorrência por homofobia. “Vamos em uma delegacia prestar queixa. Uma advogada já me acionou. Na hora eu fiquei assustado, fiquei muito mal”, lamentou Henrique.
Após a negativa, eles enviaram um texto ao ateliê lamentando a decisão. “É com profunda decepção que expressamos nossa profunda insatisfação com a recusa para o nosso casamento, simplesmente por sermos um casal homossexual. Ficamos chocados e entristecidos ao sermos informados de que nossa orientação sexual era um motivo para negar nossos convites de casamento”.
Henrique Nascimento e Wagner Soares estão juntos há oito anos e sete meses. Eles já são casados, mas planejam realizar a festa para celebrar a união em setembro do ano que vem.
O que diz a empresa
O casal publicou o relato nas redes sociais na última terça-feira (23). Como posicionamento, a loja citou “heterofobia” e reclamou das críticas que receberam. “Existe ‘heterofobia?’ Está aí uma pergunta que deveria ser introduzida nos livros de filosofia desse século (…) Hoje, chegamos ao nosso ápice. Não aguentamos mais ter que aguentar tantas críticas e questionamentos sobre o fato de não realizarmos casamento ou eventos homossexuais”, diz nota publicada no Instagram.
O ateliê justificou ainda que segue princípios cristãos “independentemente da opinião da maioria da sociedade”. “Aqui, na nossa empresa, acreditamos na família como ela é, e não estamos pedindo para ninguém que acredita ao contrário mudar de pensamento ou posicionamento”, continua o texto.
Em um vídeo publicado no Instagram, os responsáveis pela empresa explicam que há dois anos negam serviços a casais homossexuais. “Mas hoje foi a gota d’água. Fomos retaliados por um casal que não aceitou a nossa posição, a nossa opinião, e tem de fato feito comentários no nosso Instagram, dizendo que homofobia é crime (…) Nós nos posicionamos assim, e estamos sendo taxados de homofóbicos. Nós temos que aceitar aquilo que elas são, mas as pessoas não podem aceitar que nós escolhemos fazer dessa maneira e trabalhar dessa forma”, diz um dos donos do ateliê.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini