RELEMBRE O CRIME

Daniel Cravinhos pede perdão ao irmão de Suzane Von Richtofen: “a culpa me perturba”

Em uma carta aberta destinada ao ex-amigo, ele diz “estar disposto a enfrentar as consequências” dos atos e “a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o dano que causou”

Daniel Cravinhos pede perdão ao irmão de Suzane Von Richtofen
Daniel Cravinhos pede perdão ao irmão de Suzane Von Richtofen – Créditos: Reprodução/Redes Sociais

Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos de prisão pelo assassinato de Manfred von Richthofen em 2002, busca se reconciliar com Andreas von Richthofen, um dos filhos da vítima e irmão de Suzane Magnani, ex-Richthofen, também sentenciada pela execução dos pais.

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Em entrevista ao blog de Ullisses Campbell, do jornal O Globo, Daniel contou que tinha uma forte amizade com Andreas antes do crime, e que sempre teve vontade de procurá-lo.

Embora em liberdade condicional desde 2017, ele disse teme voltar à prisão se Andreas o denunciar: “No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, afirmou.

Em uma carta aberta destinada ao ex-amigo, à qual o blog teve acesso, Daniel diz “estar disposto a enfrentar as consequências” dos atos e “a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o dano que lhe causei“.

Ele também conta que a culpa continua a perturbá-lo, e que ela “não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias“.

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Confira a carta de Daniel na íntegra

Querido Andreas,

Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.

Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.

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Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?

Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?

Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.

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Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.

Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.

Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?

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Daniel Cravinhos”

Relembre o caso

Em 2002, Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen foram assassinados pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, a mando da filha, Suzane von Richthofen. O crime foi planejado para simular um latrocínio, permitindo que os três dividissem a herança de Suzane.

Suzane, Daniel e Cristian receberam penas de prisão severas: Suzane foi condenada a 39 anos e seis meses de prisão em regime fechado, mesma pena aplicada a Daniel, enquanto Cristian recebeu 38 anos e seis meses de reclusão.

Em entrevista ao blog, Daniel conta que “não tem como apontar um único motivo” para a motivação do crime. Segundo ele, “as razões são um conjunto de fatores que incluem paixão, possessão, irresponsabilidade, impulsividade, descontrole, inconsequência, raiva, imaturidade e cegueira“.

Daniel acresenta que a ideia foi dele e de Suzane, e que não é “oportunista para, nesse estágio da vida, tirar o meu corpo fora para diminuir as minhas responsabilidades. Meu maior dilema é justamente esse: como fiz algo tão terrível sem ter sido forçado por ninguém?“.

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