*Por Lilian Coelho
Basta andar pelas ruas de São Paulo que a gente tem a impressão de que a pobreza aumentou. Tem mais gente sem um teto. São famílias inteiras (sobre)vivendo em barracas improvisadas nas calçadas, pedindo uma ajuda nos semáforos, nas portas de farmácias e supermercados. O flagelo humano escancarado de várias formas. São pessoas que perderam seus empregos durante a pandemia, poder de compra e a dignidade.
Um Censo divulgado neste mês mostra que essa impressão é real: De 2019 pra cá, a população em situação de rua aumentou 31%.
Moradores de rua de São Paulo têm idade média de 41,7 anos e 70,8% são pretos ou pardos, diz censo da Prefeitura. Os bairros da Mooca e Sé concentram maioria dos sem-teto.
Do total da população de rua, 39,2% das pessoas são naturais da capital Paulista e 40,94% são naturais de outros estados como Bahia (8,47%), Minas Gerais (5,44%) e Pernambuco (5,28%).
São números, dados, que escondem histórias de uma vida sofrida. Como a da Elise, que há 1 ano, escolheu um viaduto do centro da capital paulista para morar com dois filhos e um cachorro. Veio com o marido, de Pernambuco, em busca de emprego. Perdeu o marido para a Covid e o emprego nunca chegou. Os filhos, João e Roberto, adolescentes, vendem balas no farol. Não frequentaram a escola e enxergaram no coração financeiro do país uma oportunidade de um futuro melhor. “Nunca imaginei que passaria por esta situação”, conta Elise.
Já Senival é catador de materiais recicláveis. Depois de se recuperar do alcoolismo, conseguiu em uma cooperativa ter um modo de sustento e uma carroça, que acabou virando seu lar. “Quando acabo o serviço, armo uma lona onde estiver e durmo”, diz ele.
Quando chove, a vida nas ruas fica mais complicada… “O frio acaba com a gente”, diz José, que tem uma barraca na Praça da Sé, centro de SP. Quando questionado se tem medo, ele é enfático: “Passei dessa fase”. Depois de 10 anos nas ruas, conta que já conhece as pessoas da região, não se mete em confusão nem tira nada que não é seu. Vive de “gentilezas” dos comerciantes, que dão um troco, um pão, após varrer uma calçada ou outra.
José, Elise, Senival… Histórias de pessoas invisíveis. Dados de uma triste realidade nas ruas da maior metrópole do país.