Recentemente, um conjunto de desenhos rupestres foi descoberto nas margens do rio Orinoco, entre a Colômbia e a Venezuela. As obras de arte, esculpidas diretamente nas rochas de granito da região, mostram figuras gigantescas de cobras – como jiboias e sucuris – que possuem até 40 metros de comprimento, além de outros animais e formas geométricas. Essas criações foram descritas como algumas das mais enigmáticas pelo mundo acadêmico.
A equipe liderada por Philip Riris, professor de modelagem arqueológica e paleoambiental na Universidade de Bournemouth do Reino Unido, junto com os colegas colombianos José Oliver e Natalia Lozada Mendieta, explorou essas representações que datam, acreditam os pesquisadores, entre os anos de 1000 e 1500 d.C. Segundo Riris, o local não apenas servia como um ponto de encontro para diferentes culturas, mas também como um marcador claro de territorialidade e identidade dos grupos étnicos daquela época, servindo como fronteira.
O que representam essas gigantescas imagens rupestres?
De acordo com as pesquisas, essas imagens não são meramente decorativas. Elas podem ter servido como importantes símbolos territoriais, demarcando as áreas controladas por distintos grupos indígenas. Além disso, os motivos escolhidos – particularmente as cobras – são elementares em vários mitos de criação das culturas indígenas do norte da América do Sul, simbolizando aspectos da criação do mundo e da vida. As crenças afirmam que com o nascer do mundo, as cobras foram os primeiros seres a surgirem e, enquanto rastejavam, criavam os rios.
Além das impressionantes representações de cobras, as rochas também estão gravadas com uma variedade de formas geométricas. Estas, segundo interpretações, poderiam atuar como complementos aos símbolos de cobras, talvez indicando outros aspectos culturais ou sociais importantes para os povos.
A pesquisa também sugere que esta arte só foi possível devido a sua localização, já que artes rupestres grandes e carregadas como estas só surgem em locais densamente povoados.
Publicado en “Antiquity” un nuevo estudio (Riris et al, 2024) de arte rupestre en Atures en el río Orinoco (Colombia y Venezuela) plantea la hipótesis de que pudo servir para comunicar límites territoriales hace más de 2.000 años. Se mapeó el arte en 14 yacimientos de la cuenca pic.twitter.com/0gDryLbwTR
— Crónica de Arqueología (@ivandiazsm) June 11, 2024
Impacto dessas descobertas para a arqueologia regional
A descoberta desses monumentais desenhos rupestres abre novos caminhos para a arqueologia na América do Sul, especialmente em regiões que, até então, eram pouco exploradas como o lado colombiano do Orinoco. Segundo Riris, a intensidade desses artefatos sugerem que a área era altamente povoada e culturalmente ativa, o que pode alterar a compreensão existente sobre o povoamento e desenvolvimento cultural na região do médio Orinoco.
Os especialistas acreditam que futuras explorações e estudos podem revelar ainda mais locais com artes rupestres semelhantes ao longo do Orinoco e seus afluentes, possivelmente aumentando a importância dessa região no estudo da pré-história na América do Sul.
* Sob supervisão de Lilian Coelho