Na capital do Quênia, Nairóbi, a polícia utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar manifestantes em um novo dia de protestos contra um projeto de lei que aumentaria os impostos sobre bens essenciais.
Nesta quinta-feira (27), centenas de pessoas foram às ruas exigindo a destituição do presidente William Ruto, um dia após ele ceder às demandas dos jovens manifestantes e retirar o impopular projeto de lei de aumento de impostos.
Confrontos e mobilização policial
Conforme os manifestantes se aproximavam do centro financeiro de Nairóbi, soldados foram mobilizados e a polícia bloqueou o acesso às principais vias que levam ao escritório presidencial na Casa do Estado e ao Parlamento do Quênia. A participação foi menor do que nos dias anteriores, após protestos violentos que resultaram na morte de mais de 20 pessoas, segundo grupos de direitos humanos.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR) relatou nas redes sociais que recebeu informações confiáveis sobre o uso de munição real contra “civis protestando em todo o país, resultando em algumas mortes”. A comissão não especificou os locais dos incidentes.
Protestos se espalham pelo país
Manifestantes também se reuniram na cidade portuária de Mombaça e no bastião da oposição de Kisumu, onde bloquearam estradas e atearam fogo, conforme mostraram imagens de TV.
Houve relatos de protestos em Kisii e Migori. Na cidade de Homa Bay, no oeste do Quênia, sete pessoas – duas mulheres e cinco homens – sofreram ferimentos à bala durante os protestos e foram levadas para o Hospital de Ensino e Referência do Condado de Homa Bay, informou a Citizen TV.
Anti-tax protests have turned anti-government in Kenya, with young people dissatisfied with the current economic situation and the government’s deadly response to protests earlier in the week. pic.twitter.com/oQFG88WnvS
— Al Jazeera English (@AJEnglish) June 27, 2024
Reação do governo e continuidade dos protestos no Quênia
Os protestos liderados pelos jovens começaram na semana passada, surpreendendo as autoridades. O governo de Ruto alternou entre uma linha dura e apelos ao diálogo. Na quarta-feira, o presidente se recusou a assinar as mudanças fiscais e retirou o projeto de lei. “O povo falou”, disse Ruto, prometendo “engajar-se com os jovens de nossa nação”.
No entanto, os manifestantes continuam protestando em memória dos mortos, criticando a reversão de Ruto como tardia. Zein Basravi, da Al Jazeera, relatou de Nairóbi que houve momentos de tensão entre a polícia e os manifestantes seguidos por períodos de relativa calma.
Os jovens manifestantes afirmam que só pararão quando o presidente renunciar, enquanto cantos de “Ruto deve sair, Ruto deve sair!” ecoavam pelas ruas. “Eles querem uma mudança na liderança presidencial e um Parlamento livre de parlamentares corruptos”, disse Basravi.
Kasmuel McOure, líder jovem do Quênia e pianista premiado, declarou à Al Jazeera que Ruto governa um país com jovens muito insatisfeitos. “O Quênia foi declarado um estado militar. E eu sei que ninguém está falando sobre isso o suficiente. Mas o exército recebeu carta branca”, afirmou, prometendo continuar os protestos até que o presidente “ouça o povo do Quênia”.