VOLTA DA DEMOCRACIA

Portugal: saiba mais sobre a ‘Revolução dos Cravos’, que completa 50 anos

Movimento foi motivado pelo descontentamento com o regime ditatorial do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, vigente desde 1933, e a resistência do governo à independência das colônias na África

Revolução dos Cravos completa 50 anos
Revolução dos Cravos completa 50 anos – Créditos: Wikimedia commons/Reprodução

Há 50 anos, a Revolução dos Cravos ou Revolução de 25 de Abril derrubava a ditadura do Estado Novo em Portugal, marcando o início da vida democrática no país. O movimento foi motivado pelo descontentamento com o regime ditatorial do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, vigente desde 1933, e a resistência do governo à independência das colônias.

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Foi liderada por um vasto grupo, composto por civis, exilados, políticos, artistas, intelectuais, profissionais do próprio Estado ditatorial e, diferentemente da maioria das revoluções, militares. Os cravos vermelhos se tornaram símbolo do movimento, distribuídos pela população aos soldados rebeldes, que os colocaram nos canos de seus fuzis.

A revolução abriu caminho para a resolução de lutas por liberdade de colônias de Portugal. Três meses depois, foi reconhecida a independência de Guiné-Bissau, e, em 1975, foi a vez de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola. No Brasil, além de oferecer uma oportunidade para a militância no exílio, foi um símbolo de esperança durante a ditadura militar, que começou em 1964.

Qual contexto antecedeu a Revolução dos Cravos?

Em entrevista ao site da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de São Paulo (FFLCH-USP), Rodrigo Pezzonia, doutor em História Social pela USP,  conta que o contexto histórico que antecedeu a Revolução e levou ao surgimento do salazarismo em Portugal está ligado aos movimentos fascistas da primeira metade do século 20 na Europa.

Iniciando-se em 1933 com Antônio Salazar, o Estado Novo português coincidiu com o ascenso de Hitler ao poder na Alemanha e a presença de Mussolini na Itália. A ascensão de Francisco Franco na Espanha em 1936 também é parte desse contexto, servindo como laboratório para técnicas futuras dos nazistas.

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O fim da Guerra acaba por expurgar esses governos na Alemanha e Itália, mas, talvez pelo fato de Espanha e Portugal terem posição discreta na guerra, beirando a neutralidade, esses governos não tiveram intervenção externa e permaneceram ativos até a década de 1970. Portugal entra com Salazar em um período de forte repressão contra os opositores do regime, encarnado, principalmente, após 1945, na Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE)“, explica.

Revolução foi executada por militares

Para Pezzoni, o fenômeno portou algumas peculiaridades em relação a outros movimentos revolucionários “e, talvez, a mais gritante tenha sido o fato de ser executada pelas mãos de militares, o que não seria grande novidade dado o período em questão, sobretudo no que se refere aos golpes militares latino-americanos, mas diferentemente do que ocorria do outro lado do Atlântico, o MFA (Movimento das Forças Armadas) era formado em sua maioria por capitães ligados à esquerda portuguesa. Muitos deles, inclusive, ligados ao Partido Comunista Português, assim como outras vertentes deste espectro ideológico“.

O apoio desse setor se deu não apenas pelo descontentamento em relação à ditadura em si, mas também devido às guerras de independência que ocorriam nas colônias portuguesas na África.

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Porém, Pezzoni ressalta “que a Revolução não se deu apenas pelas mãos dos militares. Personalidades civis da oposição ao regime, muitas, inclusive, no exílio (como o caso de Mário Soares, que mais adiante ocuparia o cargo de Primeiro-Ministro) tiveram importância para o desenrolar do movimento”. Também foram atores importantes no processo personalidades ligadas a políticos, artistas, intelectuais e profissionais oriundos do próprio Estado ditatorial.

Qual foi o impacto no Brasil?

Para Pezzonia, a Revolução dos Cravos teve um impacto significativo nas esquerdas brasileiras, uma vez que foi realizada por militares e com tendência à esquerda e anticolonialista. “Portugal então torna-se um espaço de contestação de brasileiros em terras europeias“, afirma.

O historiador conta que “jornais portugueses deram espaço para denúncias contra a ditadura brasileira, e os exilados tiveram contato com a esquerda europeia, especialmente a social democrata. Essa experiência influenciou o retorno ao Brasil, onde alguns militantes, liderados por Brizola e membros da resistência armada ao regime, fundaram o PDT (Partido Democrático Trabalhista) após tentativas fracassadas de restabelecer o PTB“.

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Direita no poder

Atualmente, Portugal é governado pela direita, com Luís Montenegro, líder da Aliança Democrática (AD), atuando como primeiro-ministro desde 2 de abril. Ele sucedeu António Costa, do Partido Socialista (PS), que governava o país desde 2015.

A posse de Montenegro marcou o avanço da direita em Portugal. Nas eleições de março de 2024, o PS, anteriormente majoritário na Assembleia da República, perdeu cadeiras para a AD, composta pelo Partido Social Democrata (PSD), o CDS-PP (Centro Democrático Social – Partido Popular) e o PPM (Partido Popular Monárquico).

Ao contrário do Brasil, onde o sistema é presidencialista, Portugal adota um sistema semipresidencialista, onde o primeiro-ministro lidera o Executivo e o presidente é o chefe de Estado.

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