Fazendo jus à fama dos verdadeiros revolucionários, mais de 1 milhão de franceses foram às ruas e paralisaram o país para reivindicar a permanência da idade de aposentadoria. O número é do Ministério do Interior francês, mas a Confederação Geral do Trabalho (CGT) fala em 2,2 milhões de manifestantes.
Metrô, trens, voos, empresas e pontos turísticos ficaram parados por atos contra a reforma da previdência em Paris, Marselha, Toulouse, Nantes, Clermont-Ferrand, Montpellier, Tours, Lyon e Nice. Pequenos grupos de manifestantes chegaram a lançar latas, garrafas, fogos de artifício e pedaços de pau contra a tropa de choque, que respondeu com gás lacrimogênio.
Os atos tiveram início na manhã da última quinta-feira (19), às 10h (6h em Brasília). Um grupo de cerca de 44 manifestantes foi preso na capital francesa. O CGT diz que pelo menos 400 mil pessoas se mobilizaram em Paris, enquanto o governo insiste em 80 mil. Informações de jornais franceses estimam uma nova movimentação dos manifestantes no final do mês, no dia 31 de janeiro.
POR QUE OS FRANCESES ESTÃO PROTESTANDO?
A Europa sofre com a crise energética e alimentar desencadeada pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia e a redução do fornecimento do gás russo. Ao mesmo tempo, o governo de Emmanuel Macron propõe a mudança da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos. A diferença proposta é pequena, mas eclode em um momento de insatisfação com a guinada nos preços de produtos básicos.
Em 2022 milhares de pessoas já tinham ido às ruas de Paris contra o aumento do custo de vida no país com trabalhadores de diversas áreas de atuação pedindo pelo aumento dos salários. As bombas de combustível chegaram a esvaziar, semelhante à situação do Brasil em 2018 quando a greve do caminhoneiros culminou na falta de alimentos, gasolina e insumos. O Reino Unido também enfrentou greve na semana passada com as mesmas reivindicações.
Apesar da insatisfação popular, o governo defende que a mudança na aposentadoria dos franceses é necessária para driblar o déficit de fundos de pensão que, em 2018, foi responsável por consumir o equivalente a 18% do Produto Interno Bruto (PIB) da França, revelam dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Macron disse a jornalistas na quinta que é “bom e legítimo que todas as opiniões possam ser expressas”, se referindo aos atos. “Confio nos organizadores das manifestações para que estas legítimas manifestações de desacordo se façam sem criar transtornos para os nossos compatriotas e sem excessos e violências”, declarou diretamente de sua visita a Barcelona, na Espanha.
Na quarta-feira (18), Olivier Veran, o porta-voz do governo francês, apoiou as propostas de reforma previdenciária. “Temos o sistema mais protetor e desenvolvido da Europa”, defendeu, “mesmo depois das reformas, vamos nos aposentar na França melhor e mais cedo do que em quase todos os países da zona do euro”.
Veran se refere à idade em que os europeus costumam se aposentar. Enquanto ele defende que pelo menos 40% dos franceses terão a aposentadoria ainda antes dos 64 anos no novo regime, a pensão completa no restante da Europa costuma ser paga a partir dos 65, se aproximando gradativamente dos 67.
Macron já tinha feito uma tentativa de mudança na aposentadoria em 2019, mas teve os planos frustrados pela pandemia de Covid-19.
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