Depois que Walaa Sobeh teve sua casa e grande parte do seu bairro destruídos por ataques aéreos israelenses, a muçulmana palestina buscou abrigo na igreja mais antiga da Faixa de Gaza. Na Igreja de São Porfírio, ela encontrou não apenas um santuário, mas o sentimento de pertencer a “uma família” – unida tanto pelo terror das bombas que explodiam à sua volta como pela esperança de que pudessem sobreviver aos ataques de Israel.
Ela então telefonou para outros parentes no norte de Gaza e pediu que também fossem à igreja. Sobeh e sua família estão entre as centenas de palestinos de diferentes religiões que encontraram segurança – pelo menos por enquanto – na igreja.
Na situação atual, em que o ataque mortal do Hamas a Israel, em 7 de Outubro, e o subsequente bombardeamento de Gaza por Israel provocaram um aumento da islamofobia em algumas partes do mundo, a Igreja Ortodoxa Grega emergiu como o emblema de uma identidade mais profunda como palestinos.
“Estamos aqui vivendo o dia, sem saber se conseguiremos sobreviver à noite. Mas o que alivia a nossa dor é o espírito humilde e caloroso de todos ao redor”, disse Sobeh à emissora Al Jazeera. Ela descreveu ter recebido “enorme apoio dos padres e outras pessoas da igreja que se voluntariam incansavelmente 24 horas por dia para ajudar as famílias deslocadas”.
Até agora, a igreja escapou dos mísseis de Israel. “Os militares israelenses bombardearam muitos santuários”, disse o padre Elias, sacerdote em São Porfírio, acrescentando que “não tinha a certeza de que Israel não bombardearia a igreja”, apesar de o templo fornecer abrigo a centenas de civis. As bombas atingiram diversas mesquitas e escolas que abrigavam pessoas cujas casas foram explodidas.
História e união
Construída entre as décadas de 1150 e 1160, e nomeada em homenagem ao bispo de Gaza do século V, a Igreja de São Porfírio proporcionou consolação a várias gerações de palestinos em Gaza, especialmente em tempos de medo. E embora os gritos das crianças e daqueles que estão transtornados por continuarem a viver sob os bombardeios em Gaza ecoem agora em um espaço que costumava ser repleto de orações e hinos, ainda há esperança.
Hoje, os antigos pátios e corredores protegidos da igreja oferecem abrigo tanto a muçulmanos como a cristãos, “já que a guerra não conhece religião”,afirmou o padre Elias. George Shabeen, um cristão palestino e pai de quatro filhos que está abrigado na igreja com sua família, disse que não tinha outro lugar para ir; suas ruas foram alvo de três ataques aéreos israelenses.
“Vir aqui salvou nossas vidas”, relatou. “Durante a noite, reunimo-nos, muçulmanos e cristãos, velhos e jovens, e rezamos por segurança e paz.”