ESTUDO

Abortos nos EUA chegam a um milhão em 2023, maior índice em dez anos

A dificuldade de acesso em alguns estados foi “contrabalançada por esforços monumentais por parte de clínicas, fundos e organizações de apoio logístico para ajudar as pessoas”, sendo isso tanto por apoio financeiro quanto prático

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Medicamentos – Crédito: Getty Images

Apesar das proibições implementadas em mais de uma dúzia de estados após a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos em junho de 2022, os abortos continuam a aumentar no país. Em 2023, houve mais de um milhão de abortos nos EUA. O número marca um aumento de 10% em relação a 2020 e taxa mais alta em mais de dez anos.

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Os dados foram divulgados nesta terça-feira (19) em um relatório do Instituto Guttmacher. Trata-se de uma organização de pesquisa e política que se concentra em questões de saúde sexual e reprodutiva, defendendo o direito ao aborto.

Nos 14 estados norte-americanos onde há proibição do aborto, quase não há registro desse tipo de ocorrência. No entanto, em quase todos os outros estados, o número aumentou de 2020 a 2023.

Dadas as mudanças políticas e consequentemente geográficas quanto a esse tipo de assistência, o aumento de 10% no total de abortos nos EUA implicou um crescimento de 25% nos estados que não impuseram proibições completas durante esse período.

Dessa forma, os estados vizinhos daqueles com proibições viram aumentos notáveis. No entanto, o número de abortos também cresceu em outros estados onde a prática permaneceu legalizada. “É muito possível que, embora o acesso tenha sido drasticamente reduzido para as pessoas que vivem em estados proibidos, o acesso tenha melhorado substancialmente para os residentes de estados sem proibições”, apontaram os autores.

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Além disso, os pesquisadores acrescentaram que a dificuldade de acesso em alguns estados foi “contrabalançada por esforços monumentais por parte de clínicas, fundos de aborto e organizações de apoio logístico para ajudar as pessoas”, sendo isso tanto por apoio financeiro quanto prático.

Os remédios são a opção mais comum

Outro ponto levantado pelo relatório diz respeito ao aborto medicamentoso, que se tornou mais prevalente após a decisão Roe. Cerca de dois terços de todos os abortos nos EUA em 2023 – aproximadamente 642.700 – ocorreram por esse meio. O aborto medicamentoso consiste na ingestão de dois comprimidos, mifepristona e misoprostol, em vez de realizar um procedimento cirúrgico.

Os autores do Instituto Guttmacher também sugerem que a expansão do acesso à telessaúde nos últimos anos pode ter contribuído para uma maior disponibilidade do aborto medicamentoso.

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Em 2001, o aborto medicamentoso representava menos de 10% de todos os abortos nos EUA. Em 2020, chegou a 53%. Já no ano de 2023, esse método alcançou o índice de 63%. No entanto, o mifepristona, o medicamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para o aborto em 2000, enfrenta um desafio legal significativo.

Ainda que a paciente possa utilizar isoladamente o misoprostol para o aborto medicamentoso, estudos indicam que a combinação dos dois comprimidos é a prática padrão. Um estudo recente reiterou essa constatação, mesmo quando o médico prescreve o medicamento em uma consulta de telemedicina. No entanto, a Suprema Corte dos EUA julgará esse caso em 26 de março.

Os pesquisadores do relatório ressaltaram que uma restrição da oferta de aborto medicamentoso via telemedicina “seria prejudicial para as pessoas que preferem ou só têm acesso ao aborto através da telemedicina”. Por fim, o relatório reitera que é provável que esses dados divulgados não representem o número real de abortos nos EUA. Essa distorção ocorre pois os dados não levam em conta abortos realizados fora do sistema de saúde convencional ou abortos medicamentosos enviados para pessoas em estados onde o procedimento é proibido.

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*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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