A israelense Aviva Siegel ficou 51 dias como refém do Hamas na Faixa de Gaza. Em entrevista ao Fantástico, programa da TV Globo, transmitido no último domingo (10), ela contou que passou fome, foi torturada e testemunhou o sofrimento de uma refém vítima de abuso sexual.
Ela foi sequestrada junto com o marido, Keith, e outros 16 moradores do kibutz Kfar Aza, localizado a cerca de três km da fronteira com a Faixa de Gaza. A comunidade foi atacada por integrantes do Hamas em 7 de outubro.
“Foram 51 dias no inferno. Ninguém esquece uma coisa assim. Fui torturada, passei fome, tive sede. Não tinha oxigênio”, disse Aviva ao programa. “Quando pegaram o Keith [marido da israelense], quebraram as costelas dele com um empurrão. Deram tiros em volta da gente, e uma das balas acertou a mão dele”, continuou.
Após cerca de dois meses, quando um acordo de cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas incluiu a troca de reféns, em novembro de 2023, ela foi libertada pelo grupo armado, no entanto, seu marido continua no poder dos extremistas.
Aviva disse que está preocupada com Keith: “ele tem 64 anos e tem problemas de saúde, tem pressão alta e não está tomando o remédio certo. Tenho certeza disso, porque eu não tomei. E ele foi tratado como lixo, como um nada”.
A ex-refém está entre o grupo que protesta em Tel Aviv, capital de Israel, contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, exigindo que a prioridade do governo seja a libertação dos reféns.
Conforme repercutido pelo Fantástico, estima-se que, das 253 pessoas sequestradas nos ataques de 7 de outubro, ao menos 130 continuam nas mãos do Hamas, mas nem todos estão vivos.
Presos em cativeiro
Segundo a israelense, ela e o marido passaram fome. E a tortura não era apenas física, mas também psicológica. “Não nos davam comida suficiente, então perdi dez quilos. Davam um pouco de pão, às vezes tão seco que você mal conseguia mastigar. Às vezes, era só um pouco de arroz, mas nunca era o suficiente. E, às vezes, não davam nem água o suficiente”, completou.
De acordo com ela, integrantes do Hamas “costumavam comer na frente” dos reféns. “Mastigavam, vinham de outro recinto mastigando, enquanto nos deixavam 24 horas sem comer”, disse.
Aviva também presenciou abusos sexuais e físicos com outras reféns e ficou emocionada ao relatar o que lembrava. “Uma das moças foi ao banheiro e quando voltou eu pude ver no rosto dela que alguma coisa tinha acontecido. Levantei-me e dei um abraço nela. E o terrorista veio e começou a gritar porque a gente sabia que abraços eram proibidos. Depois de umas duas horas com todo mundo quieto por sabermos que uma coisa ruim tinha acontecido com ela, ela olhou pra mim e disse: ele tocou em mim.”, contou Aviva.
Segundo a israelense, esse foi um dos momentos mais difíceis durante o cativeiro, pois desejava proteger a jovem, mas não podia. Ela também afirmou que os terroristas agrediam as reféns e uma delas foi violentada durante a transferência do grupo de prisioneiras.
Nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o relatório de uma investigação sobre a violência sexual nos ataques sofridos por Israel em outubro de 2023. Conforme o documento, equipes de resgate encontraram corpos de mulheres nuas com as mãos amarradas e ferimentos de bala na cabeça. Os investigadores concluíram que alguns dos reféns levados para Gaza foram vítimas de diversas formas de violência sexual relacionadas aos conflitos.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini