RIVALIDADE ALÉM DO FUTEBOL

Irã x EUA: Entenda os conflitos entre os países

A disputa dentro de campo desta terça-feira (29) representa mais para os países do que apenas um duelo futebolístico, mesmo com as tentativas de separar conflitos políticos do esporte.

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Irã e Estados Unidos se enfrentam na Copa do Mundo do Catar nesta terça-feira (29) (Crédito: Agência Brasil/ Canva Fotos)

A partida entre o Irã e os EUA desta terça-feira (29) coloca em campo muito mais do que lances e chuteiras. O jogo marca o duelo destes países vinte e quatro anos depois da primeira disputa em uma Copa do Mundo. A disputa, desta vez, é por uma vaga nas oitavas de final no campeonato mundial e traz consigo um significado bem maior.

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Os países, rivais no futebol nesta edição, vivem duelos políticos há anos fora dos campos. Depois da Revolução Islâmica do Irã em 1979, Irã e Estados Unidos romperam as relações diplomáticas que ainda mantinham.

Na Copa do Catar, os estadunidenses ocupam o terceiro lugar no ranking do Grupo B, com 2 pontos e precisam de uma vitória para avançar no campeonato. Os iranianos ocupam o segundo lugar no Grupo B com 3 pontos . Dependendo do resultado da partida entre Inglaterra e País de Gales, pode bastar um empate para que o time asiático chegue às oitavas de final.

Os pontos importantes a serem considerados para entender melhor a rivalidade entre os países estão listados abaixo.

Bandeira sem o símbolo da República Islâmica

O treinador do time norte-americano, Gregg Berhalter, defendeu repetidamente que o enfrentamento não tinha qualquer cunho político. “A partida será muito disputada pelo fato de que as duas equipes querem passar à fase seguinte, não por questões políticas ou de relações entre os nossos países” declarou.

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Mesmo com os esforços, Berhalter foi driblado pela própria federação dos Estados Unidos. Uma postagem publicada nas redes sociais oficiais da federação, mostrava a bandeira iraniana sem o símbolo oficial da República Islâmica. Veja abaixo.

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A Federação de Futebol dos Estados Unidos publicou imagem em que a bandeira do Irã foi modificada (Crédito: Reprodução/ Instagram)

Os porta-vozes responsáveis pela U.S. Soccer disseram que o ato foi em “solidariedade com as mulheres do Irã“. O país vive uma onda de manifestações desde a morte de uma jovem iraniana por supostamente quebrar o código de vestimenta instituído no país.

O treinador lamentou a postagem e disse ainda que tanto ele, quanto a equipe e os jogadores não sabiam o que tinha acontecido e que o foco era na partida, “sem querer soar indiferente ou que não se importa [com a postagem] por dizer isto“.

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O post foi removido e a federação iraniana fez uma reclamação formal à Fifa.

O ‘jogo da paz” de 1998

A Copa do Mundo na França em 1998 foi o palco de uma disputa histórica entre Irã e EUA. A importância no campeonato foi a de qualquer outra partida, mas cheia de simbologias aos conflitos políticos entre os países. O período era de aproximação entre o Irã e o ocidente com a eleição do presidente Mohammad Khatami.

Regras rígidas foram colocadas para a entrada das seleções em campo e posteriormente posaram para uma foto que entrou para a história com os dois times juntos. Jogadores iranianos chegaram a entregar flores brancas aos americanos.

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Apesar do clima duro dentro de campo, a partida foi pacífica. Nas arquibancadas, simpatizantes da Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano (OMPI), movimento em exílio proibido no Irã, estavam presentes e o ambiente permanecia tenso mesmo durante a partida.

Um dos manifestantes chegou a invadir o campo antes do apito do árbitro com uma camisa com uma imagem de Maryam Radjavi, líder da organização.

Antes do início do jogo, Bill Clinton, então presidente dos EUA, declarou que esperava “dar um novo passo para o fim da hostilidade” entre ambas as nações, inimigas desde a Revolução Islâmica de 1979.

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O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Rajes Rubin, declarou à época que se tratava de um início para “construir laços, derrubar os muros da desconfiança e criar uma melhor compreensão“. Já o zagueiro do time americano de 1998, Jeff Agoos, afirmou que fizeram “mais em 90 minutos do que os políticos em 20 anos

O início dos conflitos

A relação entre Irã e EUA começou a entrar em colapso por volta de 1953, com o golpe de estado no país asiático. A Operação Ajax, a intervenção estrangeira que possibilitou o golpe, foi comandada pela agência de inteligência dos EUA e apoiada pelo governo britânico.

Os países tinham forte interesse econômico no Irã, especialmente o Reino Unido que buscavam recuperar os lucrativos negócios de petróleo com o país.

O primeiro governante iraniano eleito de forma democrática, o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq, foi derrubado pelo golpe que restabeleceu a monarquia autoritária com o xá Mohamed Reza Pahlevi, aliado dos EUA.

Este foi o início da má visão dos iranianos sobre os americanos. A animosidade entre os países foi, inclusive, um impulso para a Revolução Islâmica de 1979, depois da onda de nacionalismo iraniano que eclodiu com o golpe.

Em novembro de 1979, as relações com os norte-americanos foram definitivamente abaladas com a tomada da embaixada americana em Teerã. Manifestantes fizeram diplomatas e cidadãos dos EUA reféns e o cerco à embaixada durou 444 dias.

Seis reféns fugiram da embaixada e, mais tarde, os 52 reféns restantes foram libertados em janeiro de 1981. Um ano antes os EUA romperam as relações diplomáticas com o Irã que seguem cortadas até hoje.

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