Maradona, Fidel Castro e o uso de drogas em Cuba

O escândalo post mortem também afeta a imagem do falecido Fidel Castro. Drogas, estupro e proteção do serviço secreto cubano

Maradona, Fidel Castro e o uso de drogas em Cuba
Diego Maradona (Crédito: Chris McGrath/Getty Images)

Em uma embriaguez que já durava anos, além do uso de drogas, Maradona acabou abraçando uma estátua e a torceu. A metáfora explica o impacto do escândalo post-mortem do “camisa 10” na imagem de um herói revolucionário: Fidel Castro.

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Ao chamá-lo de “nosso Papa”, Hugo Chávez revelou o que o líder cubano representava para a maioria dos esquerdistas latino-americanos: uma referência espiritual e moral, além de ideológica.

Essa referência mostra agora uma fase decepcionante para os seus fiéis: a mancha deixada pela deriva maradoniana em seu passo por Cuba. A revelação da cubana que, aos 16 anos, foi deitada, pela mãe, tia e avó, na cama de um argentino famoso e milionário, não expôs apenas a degradação em que Maradona havia caído naquele momento em seus vícios: expôs também um lado miserável do líder comunista que aqueles que o idolatram, na América Latina e em outras partes do mundo, não podiam imaginar.

Para cortejar o jogador de futebol, devido ao valor estratégico que significava para o seu regime tê-lo na ilha, Fidel Castro permitiu que ele fizesse sexo com menores e consumisse drogas.

Fazer o mundo acreditar que Maradona estava se curando do vício em drogas em Cuba foi uma fraude global. O escândalo mostra que o craque continuou usando drogas durante o tratamento que recebia em Cuba. E Fidel foi quem perpetrava essa fraude, porque ele sabia de tudo. Não havia como ele não saber. É impossível que os médicos que tratavam Maradona não tenham percebido que ele estava usando cocaína, e também é impossível que eles não o denunciassem à direção do regime.

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Se Maradona recebia e consumia drogas em Cuba, Fidel sabia. E também sabia que, ao dar presentes caros e uma vida inacessível aos cubanos comuns, obtinha a permissão da família para dispor de uma adolescente. A prova irrefutável é uma foto. Nela, o comandante posa com Maradona e a sua namorada adolescente. Nesse encontro ficou clara a relação que o jogador de futebol tinha com a garota para quem pediu do comandante uma autorização para poder levá-la para o exterior.

A propósito, é uma aberração que Maradona tenha tido em Cuba uma relação que incluía drogas e sexo com uma menor. Também que aquele grupo de amigos que o visitavam tenha mantido um silêncio cúmplice sobre esse relacionamento. Mas a questão não é Maradona, é Fidel.

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Nesse ponto de sua deriva, Maradona não era o herói moral de ninguém. Nem os membros de sua comitiva. “O camisa 10” acumulava sintomas de uma decadência pessoal importante. A cocaína o arrastava para a falência psicológica e moral. É possível que ele não mais fosse capaz de calibrar as implicações de se aproveitar da pobreza de uma família cubana para trazer uma adolescente para sua cama. Mas a surpresa maior não é esse comportamento. Para além da condena que merece, a surpresa não está no que Maradona e sua comitiva faziam, mas no fato de que Fidel Castro permitiu tudo isso.

O astro argentino recebeu e consumiu cocaína em Cuba, onde foi justamente para se curar do vício. É impossível que os médicos que o tratavam não tenham percebido. O consumo dá sinais visíveis e se aquela equipe de especialistas sabia que Maradona continuava usando drogas, eles o denunciariam às autoridades; logo, Fidel sabia.

Para Castro, ter Maradona em Cuba tinha valor estratégico. O “camisa 10” servia à propaganda castrista; portanto, se algo ruim acontecesse com ele, por exemplo, se ele passasse mal por uma overdose, isso impactaria negativamente a imagem do regime.

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Os agentes do G2 devem ter monitorado ele permanentemente. O aparato de inteligência cubano é o mais eficaz da América Latina e nada do que Maradona fez pode ter passado despercebido por tal rede de espionagem.

Em todo caso, sequer era necessário que os médicos e “os gerardos” (como os cubanos chamam os agentes do G2) informassem ao líder cubano que o argentino mais famoso do mundo vivia com uma adolescente. O próprio comandante verificou pessoalmente porque Maradona a apresentou a ele quando foi pedir-lhe que assinasse sua autorização para viajar.

As drogas haviam alterado a bússola do famoso jogador de futebol há muito tempo, mas Fidel Castro estava em plena consciência. Tudo o que acontecia na ilha estava sob seu controle.

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Enquanto viveu, Fidel foi considerado um farol da moralidade revolucionária. Ao chegar ao poder derrotando o regime corrupto de Fulgencio Batista, prometeu que Cuba deixaria de ser “o bordel da América”. No entanto, sempre esteve à vista dos turistas estrangeiros que a prostituição continuou a existir em grande escala. As “jineteras” se concentram onde há dólares.

A prostituição existe no mundo inteiro, mas a revolução não conseguiu que Cuba se distinguisse do resto do Caribe e dos países da América Central reduzindo significativamente, por pouco que seja, a prostituição infantil. A maior das Antilhas é um dos locais mais procurados do planeta para o “turismo sexual”. E o tamanho desta seara da indústria turística cubana tem entre as suas causas a frouxidão das leis locais em relação ao sexo com menores.

A maioridade é alcançada aos 18 anos, mas a natureza criminosa do sexo com menores é ambígua o suficiente para que o turismo sexual seja atraente em Cuba. Mesmo assim, o fato de Fidel Castro ter incluído uma menor como uma amenidade pessoal de um famoso multimilionário, deveria gerar estupefação e espanto, além de impactar a imagem do herói revolucionário no mundo.

Nos anos 1980, para dissociar o regime da sombria sociedade revelada entre altos funcionários cubanos e o cartel de Medellín, Arnaldo Ochoa foi culpado por tudo. O general que lutou na Sierra Maestra sob o comando de Camilo Cienfuegos e fora condecorado como herói nacional por suas façanhas em Angola e na guerra de Ogaden, onde Cuba colaborou com a Etiópia contra a Somália, foi condenado e executado em 1989 por associação com o que era então a maior máfia das drogas do mundo.

Quando estourou aquele escândalo, Fidel colocou toda a responsabilidade nos ombros de Ochoa, mas é difícil acreditar que tal sociedade pudesse existir detrás das suas costas. O fato é que Castro garantiu que nunca permitiria a entrada de drogas e agora Mavys Álvarez confirma que Maradona usava drogas em Cuba.

Protegido pelo G2, o astro recebia cocaína que entrava na ilha apesar da armadura com que o regime controla tudo o que entra e sai. Algo assim não poderia acontecer sem a permissão do comandante. Por isso, a cocaína e a adolescente que Maradona consumia impactam a imagem do líder cubano. Resta saber como isso será processado por aquela congregação latino-americana que o venera como apóstolo da moral revolucionária.

*Por Claudio Fantini.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Notícias, da Perfil Argentina.

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