Ramadã

Mês sagrado dos muçulmanos começa em meio aos conflitos em Gaza; entenda

Em um cenário de paz, as ruas do enclave estariam cheias de famílias comprando decorações e suprimentos para a celebração, enquanto se preparam para os dias de jejum, as noites de refeição em família e as sessões de oração noturnas nas mesquitas

O Ramadã, nono mês do calendário islâmico, teve início ontem (10). Para os seguidores do Islã, foi durante este período do ano que Maomé revelou os primeiros versículos do Alcorão há mais de 1.400 anos.
Faixa de Gaza – Crédito: Ahmad Hasaballah/Getty Images

O Ramadã, nono mês do calendário islâmico, teve início ontem (10). Para os seguidores do Islã, foi durante este período do ano que Maomé revelou os primeiros versículos do Alcorão há mais de 1.400 anos. Por esse motivo, este é o mês sagrado dos muçulmanos. Dessa vez, apesar das tentativas de chegar a um cessar-fogo, o Ramadã ocorre em meio à guerra na Faixa de Gaza.

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Estabelecido por um calendário que segue os ciclos da lua, o mês sagrado dos muçulmanos começa com a primeira lua crescente e termina com a próxima. De acordo com o Alcorão, os seguidores devem se abster de comer, beber, fumar e manter relações sexuais durante o dia até o final do período. Além disso, os seguidores intensificam as práticas islâmicas, como as orações diárias, a peregrinação a Meca e a prática de jejum entre o nascer e o pôr do sol a cada dia, entre outras.

Vale ressaltar que o propósito da privação alimentar durante o Ramadã é lembrar aos muçulmanos do sofrimento e das necessidades daqueles que não têm o que comer. Ao final de cada dia, os seguidores do Islã quebram o jejum com alimentos, geralmente leves, e intensificam as suas orações. O jejum é considerado uma forma de purificação tanto física quanto espiritual. Além disso, os seguidores devem abster-se de brigas, linguagem ofensiva ou fofocas.

Este ano, em Gaza, as tradições em torno da devoção religiosa parecem distantes devido à persistente ofensiva militar israelense e ao bloqueio quase completo. O enclave enfrenta uma situação desoladora, com mais de 31 mil vidas perdidas. Em suma, a guerra alterou o modo de vida dos palestinos e a forma como eles enxergam o Ramadã nesta região.

O mês sagrado dos muçulmanos em meio à guerra

Ao The New York Times, Ahmad Shbat, um vendedor ambulante de 24 anos, contou que, em um cenário de paz, as ruas das cidades de Gaza estariam cheias de famílias comprando decorações e suprimentos para o Ramadã, enquanto se preparam para os dias de jejum, as noites de refeição em família e as sessões de oração noturnas nas mesquitas. “Lembro-me das festividades do mês enquanto caminhava pelas ruas do mercado, com cantos e louvores por todo o lado”, relatou.

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Contudo, no cenário atual, as famílias foram separadas, já que a maioria dos 2,2 milhões de residentes de Gaza foi obrigada a deixar suas casas. Muitos agora vivem em acampamentos superlotados. Mesquitas que Israel alega terem sido utilizadas por combatentes do Hamas foram completamente destruídas por bombardeios. Os habitantes de Gaza esperavam que um acordo de cessar-fogo fosse alcançado antes do início do Ramadã, mas isso não aconteceu.

Devido às dificuldades enfrentadas durante a guerra, alguns muçulmanos em Gaza afirmam que será desafiadora a prática do jejum durante todo o dia. Outros mencionam que, com a fome ameaçando Gaza, muitos já estão se alimentando apenas uma vez ao dia. Segundo as autoridades de saúde locais, pelo menos 20 crianças palestinas morreram de desnutrição e desidratação. Nesse contexto, algumas pessoas estão recorrendo ao consumo de folhas e ração animal para sobreviver. Muitos têm se alimentado da planta nativa selvagem conhecida como malva egípcia, comumente consumida pelos palestinos.

“Não faz sentido um mês sem se reunir à mesa com a família”, contou Shbat. Além disso, confessou que devido a destruição das mesquitas, a alegria do Ramadã parece perdida. “O mês sagrado dos muçulmanos não será agradável, especialmente porque estaremos longe de nossas casas e de nossos entes queridos”, acrescentou.

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*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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