Os anos 60 e 70, o movimento Hippie e o pop

Acho que a ação mais prevalente dessas décadas foi a rebelião dos jovens vista no maio francês. Tudo mudou a partir daí

Os anos 60 e 70, o movimento Hippie e o pop
O movimento Hippie, a arte pop nos EUA e na Inglaterra influenciaram muito a política, o direito e a vida em geral (Crédito: Mario Tama/Getty Images)

Os anos 60 e 70 foram maravilhosos, intensos, criativos, novos. Era impossível metabolizar todas as mudanças que ocorriam diariamente. Agradeço ter participado ativamente nessas décadas em que a cada dia algo nos surpreendia.

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Foram os anos dos Beatles, dos Rolling Stones, Che Guevara, Andy Warhol, do Cordobazo, do Rodrigazo, a Noite das Longas Canes, a rebelião francesa de maio de 68, a Primavera de Praga, a Guerra do Vietnã e o grande interesse pela psicanálise .

Na Argentina estivemos sempre entre governos democráticos e golpes de estado. Quando ouvíamos uma música de marcha, já sabíamos que um hit estava por vir. Colocamos imediatamente no rádio Colônia para saber o que estava acontecendo. O lado negro foi no final dos anos 60 com o ex-presidente Juan Carlos Onganía. Situações de crueldade raramente vistas foram vividas no processo de reorganização militar que a ultrapassou de longe.

Tínhamos no nosso país grandes figuras da arte e da cultura: Cortázar, César Park, Piazzolla, só para citar alguns, que se iam tornando conhecidos em todo o mundo.

Uma representação de Buenos Aires na época era o Instituto Di Tella localizado na rua Florida onde muitos jovens se encontravam, realizavam exposições artísticas, concertos, pesquisas, etc. Quando eu via obras de arte, sempre pensei que a arte envelheceria mal. Embora na época ele estivesse gostando. De Di Tella, muitos de nós íamos almoçar juntos no Bar Bárbaro da rua Reconquista e continuamos a comentar o que havíamos visto.

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No ano de 67 foi organizada uma carta para a Europa para psicanalistas. O motivo da viagem foi um Pré-Congresso em Londres e um Congresso na Dinamarca, da International Psychoanalytic Association.

Quando chegamos em Londres, tudo era incrivelmente moderno para nós, no corredor do hotel para o nosso quarto havia um dispositivo onde você calçava e engraxava os sapatos. Havia também um lugar onde você podia conseguir gelo. Tudo era novo. Na sala havia um rádio com alto-falantes tocando os Beatles o tempo todo. Todas as mulheres estavam de minis na rua, e a garçonete que nos atendia usava blusa transparente e sem corpete. Não me surpreendeu. O que mais me impressionou, como mostra o filme “Bohemian Rhapsody”, é a boutique BIBA onde os homens podiam sentar-se enquanto esperavam as mulheres experimentarem as roupas. Vivemos na Carnaby Street e de lá fomos para a Mary Quant, ela foi quem promoveu a revolução da moda e a libertação feminina em Londres nos anos 60.

A moda e os novos movimentos chegaram ao nosso país muito mais tarde, por isso a nossa surpresa foi tão grande.

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Depois viajamos para a Dinamarca onde conheci Ana Freud e Martin Freud, que haviam viajado para visitar sua irmã Ana. Conhecê-los foi como dar uma mordida na história. Ana Freud era uma mulher grande para mim, eu tinha 24 anos. Ela me parecia uma boa “velha” que dançou em determinado momento da festa. Foi quando descobri que ela estava tecendo em um tear enquanto analisava crianças. Acredito que a tecelagem coloca a pessoa em um estado ideal para analistas: ouvir atentamente “flutuar livremente”. O trabalho manual facilita esse estado.

O que essas duas décadas nos deixaram

Naquela época, as ilusões foram renovadas. Literatura, filosofia, arte e dentro desta música fundamentalmente que encheu nossas almas de amor pela paz. Adoramos as frases, uma de John Lennon: “a vida passa enquanto alguém se distrai com outra coisa.” E outras cunhadas pelos hippies que ficaram gravadas em nossos cérebros: “faça amor e não faça guerra”. Os anos 60 foram o berço da liberdade sexual, foi como respirar ar puro, foi uma época de muita vitalidade, adorávamos conhecer os amigos.

Acho que o mais característico foi a preponderância da rebelião dos jovens, que pode ser vista com muita clareza no maio francês. Há um antes e depois desse tempo, tudo mudou a partir daí. Quando a AIDS começou na década de 1980, foi muito doloroso. Foi um freio à liberdade que desfrutávamos. Mais tarde, o medo diminuiu quando as drogas apareceram. Hoje Freddie Mercury e muitos outros estariam vivos.

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O movimento Hippie, a arte pop nos EUA e na Inglaterra influenciaram muito a política, o direito e a vida em geral nesses países. Todo esse tempo nos deixou impregnados de liberdade, ideias, criatividade. Ainda tenho o sabor da viagem que experimentei. Tive a sorte de ter feito parte desse tempo, é algo que dura para mim. Isso tem um efeito duradouro em mim, me fez carne. Persiste no tempo, no meu coração.

Obrigado a vida por ter me dado a oportunidade de desfrutar daqueles anos!

*Por Annie Freidenberg – Psicanalista.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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