Um censo realizado pelo governo da cidade de Buenos Aires revelou que o número de pessoas em situação de rua aumentou 14% em comparação com 2023. Neste ano, dados oficiais indicam que aproximadamente quatro mil pessoas estão dormindo nas ruas ou em abrigos noturnos.
Para o prefeito Jorge Macri, não se trata de um problema de natureza apenas social. Em coletiva de imprensa, disse: “Hoje o problema das pessoas na rua é muito mais complexo do que antes. Tem crescido fortemente desde 2020, em consequência da crise econômica, mas também devido à pandemia e ao confinamento. Esses fatores convergem para gerar, nesses grupos, um aprofundamento dos problemas de saúde mental e dependência”.
Esse fenômeno é algo que, segundo o político, é global e também registrado em outras cidades do mundo. “Isso nos levou a implementar algumas mudanças profundas na política para enfrentar o problema das pessoas que vivem nas ruas“, afirmou Macri.
O governo de Buenos Aires ainda detalhou que, recentemente, algumas das pessoas que em situação de vulnerabilidade estão respondendo com maior violência para vizinhos e voluntários de programas sociais de ONGs especializadas.
Para atender o maior número possível de pessoas e, principalmente, acompanhar os casos em que há envolvimento de menores, as equipes sociais do programa Rede de Atendimento se baseiam em centros de assistência. Ao todo, a capital argentina conta com 47 espaços que oferecem refeições quentes, banheiros, chuveiros e pernoite. O governo também tem reformado os abrigos para oferecer serviços específicos a diferentes parcelas da população.
Existem albergues especiais para homens solteiros, que são maioria entre os moradores de rua, mulheres, idosos e famílias. Nas próximas semanas, a expectativa da prefeitura de Buenos Aires é criar 180 vagas para famílias sem casas. Além de oferecerem alternativas de ressocialização para toda a família, os centros especializados possuem apoio escolar.
A Rede de Atendimento é formada por equipes de psicólogos e assistentes sociais que percorrem a cidade durante o dia, oferecendo alimentação ou convidando uma transferência para alguns dos centros que funcionam 24 horas por dia.
Por fim, Macri revelou que a ideia da organização é “sair” para buscar essas pessoas, de forma contínua e proativa, sem precisar esperar pelos pedidos diários de ajuda que as pessoas podem fazer através dos contatos existentes.
Dados sobre a população de rua
Das 4.009 pessoas em situação de rua na cidade de Buenos Aires, 60% sofrem de problemas de dependência ou transtorno de saúde mental. Além disso, 63% frequentam ou utilizam regularmente os centros de assistência.
ONGs de direitos humanos criticam as novas políticas
As medidas políticas, no entanto, não estão isentos de críticas e observações que surgem de diversos atores sociais e ONGs.
O advogado Jonatan Baldiviezo, cofundador do Observatório do Direito à Cidade, disse ao Jornal PERFIL: “As autoridades da cidade de Buenos Aires consideram, há muitos anos, que o morador de rua tem uma relação associada a algo criminoso ou a distúrbios da ordem pública. E, se realizam uma operação, entendem-na sob o critério que associa a pessoa em situação de rua ao caos e a um usufruto do espaço público.”
Para o especialista em direitos humanos, “o certo é vê-los como sujeitos cujo direito à habitação foi violado”. Desse ponto de vista, o caminho para resolver o problema é garantir o direito à moradia para essas famílias, o que está claro na Constituição do país.