falsidade ideológica

PGR aponta Zambelli e Delgatti como mandantes de invasão a site do CNJ

O hacker admitiu sua participação na invasão e está preso desde agosto devido à investigação. Já Zambelli nega envolvimento no caso e diz que não há “prova efetiva” de sua colaboração

invasão
Carla Zambelli teve “papel central” na invasão dos sistemas eletrônicos do Judiciário e foi a “autora intelectual” do ataque hacker – Crédito: Vinícius Schmidt / Metrópoles

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teve “papel central” na invasão dos sistemas eletrônicos do Judiciário e foi a “autora intelectual” do ataque hacker, disse a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao apresentar denúncia contra a congressista. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou a deputada e o hacker Walter Delgatti Neto no âmbito da investigação.

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De acordo com Gonet, o objetivo era “gerar ambiente de desmoralização da Justiça Brasileira, para obter vantagem de ordem política, propondo-se, desde o princípio, à invasão a dispositivo informático, que, afinal, determinou, participando ativamente de produção de ordem judicial ideologicamente falsa”.

A deputada e o hacker foram denunciados pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. A primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF), composta pelo presidente Alexandre de Moraes e os ministros Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino, irá decidir se recebe a denúncia após a manifestação da defesa.

Na denúncia, Gonet ressaltou que o próprio Delgatti confessou as invasões, que também ficaram demonstradas por análise de perícia. Procurada, a defesa do acusado informou que, “Walter é réu confesso na invasão do CNJ, portanto não é surpresa a denúncia em seu desfavor. Com relação à denúncia perpetrada a Carla Zambelli, só confirma que Walter falou a verdade”.

Em nota, a deputada diz ter recebido a notícia da denúncia com surpresa e afirma que não há “prova efetiva” de que ela colaborou, instigou e incentivou Delgatti a invadir os sistemas do Poder Judiciário. “A narrativa dele acusando a Deputada e terceiras pessoas foi desmentida pela própria investigação, e a defesa irá exercer sua amplitude para demonstrar que ela não praticou as infrações penais pelas quais foi acusada“, diz trecho da nota.

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Entenda a denúncia da invasão

A invasão do site do CNJ, segundo investigação da Polícia Federal, aconteceu em novembro de 2022. Em 4 de janeiro de 2023, Delgatti inseriu documentos falsos no sistema do órgão, como um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, assinado pelo próprio magistrado. O hacker disse à PF que Zambelli redigiu o falso mandado, o que ela nega. Delgatti também colocou no sistema uma falsa quebra de sigilo das contas bancárias do ministro.

No final de fevereiro deste ano, a PF concluiu o inquérito sobre a invasão e indiciou o hacker e a deputada por suspeita de terem cometido diversas vezes os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Embora não tenha encontrado trocas de mensagens entre Zambelli e Delgatti, foram achados, nos equipamentos pessoais de Zambelli apreendidos quatro documentos falsos inseridos criminosamente pelo hacker no sistema do CNJ.

Delgatti está preso desde agosto por causa da investigação do hackeamento do CNJ. Em depoimento à PF, ele confessou o crime e relatou a participação da deputada federal.

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Pagamento

Conforme a denúncia, Zambelli contratou os serviços de Delgatti e teria prometido “trabalho” a ele. A PGR cita relatório da PF que confirmou que o hacker “trabalhava para a denunciada [Zambelli], sendo de se realçar que ele detinha informações de acesso a sítios eletrônicos e a servidores associados à parlamentar”.

Ainda de acordo com a acusação, o pagamento era “escamoteado”, para tentar encobrir a relação, e feito por meio de um terceiro, Jean Hernani, que era funcionário do gabinete de Zambelli. Segundo a investigação, ele pagou o hacker depois de receber o dinheiro da empresa da esposa, na época, contratada para cuidar das redes sociais e materiais de campanha de uma frente parlamentar de doze candidatos do PL. Hernani não foi denunciado no caso.

Falsa ordem de prisão

A falsa ordem de prisão contra Moraes foi publicada na imprensa na noite de 4 de janeiro, três horas após Zambelli recebê-la do hacker. A divulgação na imprensa alertou o CNJ sobre o hackeamento e motivou a investigação da PF. Para a polícia, foi Zambelli que divulgou o documento a jornalistas com o objetivo de difundir suspeitas sobre a credibilidade do Judiciário.

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Na ocasião, apoiadores de Jair Bolsonaro usaram o episódio para questionar nas redes sociais a lisura do processo eleitoral conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é presidido por Moraes. A divulgação da invasão do CNJ ocorreu às vésperas dos atos de 8 de janeiro, quando militantes extremistas acampavam em frente aos quartéis do Exército. Em suas redes sociais, Zambelli apoia abertamente atos bolsonaristas e faz diversas críticas ao atual governo de Lula.

*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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