Após um mês do uso inadequado do ansiolítico lorazepam, a inglesa Emma Saunders começou a apresentar sintomas de psicose. Ela expressou descontrole no sistema motor e irritabilidade intensa, além de fortes enxaquecas e dor nos olhos.
A fotógrafa começou a usar o remédio por conta de um zumbido no ouvido, que desenvolveu durante a pandemia. Sem examiná-la, os médicos suspeitaram que a causa do zumbido seria estresse e receitaram o tranquilizante, que alivia sintomas de ansiedade. “Era novembro de 2020, e o médico me orientou a tomar o remédio até que a pandemia acabasse e minha vida voltasse ao normal”, contou Emma, em entrevista ao Daily Mail, nesta terça-feira (23). Na ocasião, ela não foi informada dos riscos de dependência do medicamento.
O que é lorazepam?
Disponível no mercado desde 1977, o lorazepam é um benzodiazepínico indicado para o tratamento da ansiedade e dos sintomas dos distúrbios a ela relacionados. Esses medicamentos são capazes de agir no Sistema Nervoso Central e, assim, possuem propriedades ansiolíticas, sedativas, relaxantes, anticonvulsivantes, além de efeitos amnésicos. Devido às suas características, ele só pode ser comercializado sob receita médica.
O medicamento é utilizado para o controle ou alívio a curto prazo dos transtornos de ansiedade e seus sintomas. Além disso é receitado para transtornos de ansiedade relacionados a outras condições, como estados psicóticos e depressão.
Por que o medicamento pode causar dependência?
O uso prolongado de lorazepam, entretanto, é desaconselhado na bula por risco de causar dependência e síndromes psicóticas. Os fabricantes recomendam fazer o tratamento em, no máximo, quatro semanas. Emma utilizou o remédio por seis meses.
Os problemas começaram a se manifestar após um mês de uso contínuo. Ela sentiu que estava tendo dificuldades para dormir e tendo pesadelos mais frequentemente. O estado de terror em que vivia ao despertar de súbito durante as noites passou, então, a ocorrer durante o dia. “Falei sobre os sintomas com o médico e ele me disse para continuar o tratamento”, afirmou.
Dois meses após o início do tratamento com lorazepam e com prescrição médica, a fotógrafa passou a tomar também o citalopram. A combinação a levou a um surto psicótico logo no primeiro dia de uso. “Senti um desespero muito grande, chorava e tremia”, conta. Ela passou a apresentar movimentos repetitivos incontroláveis de andar para frente e para trás e começou a ter ideações suicidas.
O citalopram também é utilizado para o tratamento da depressão e da ansiedade. Todavia é classificado como Inibidor Seletivo da Recaptação da Serotonina, neurotransmissor responsável por estimular o chamado sistema serotoninérgico, muito relacionado ao nosso humor e bem-estar. Este medicamento também só pode ser comercializado sob prescrição médica.
Tratamento
A fotógrafa deixou o citalopram após um mês de uso, pois seu estado de saúde parecia apenas piorar. Ela passou a ler cada vez mais casos de pessoas que sofriam de abstinência de benzodiazepínicos e antidepressivos e decidiu fazer um desmame caseiro também do lorazepam.
Ela começou, porém, a ter reações nervosas muito piores. “Minha visão ficou embaçada e tive a sensação de que estava saindo do meu corpo”, lembra. Emma foi internada e se recusava a tomar novos remédios, o que dificultava o tratamento. Ela recebeu alta, mas começou a sofrer alucinações.
Os sintomas só passaram com as doses de lorazepam, que voltaram a ser dadas um ano depois do início do tratamento. Ela passou a ser acompanhada por um psiquiatra que organizou um desmame da substância, trocando-o por antidepressivos que agora estão também tendo sua dose lentamente reduzida. “Ainda tenho alguns episódios de zumbido, o que inicialmente tinha me levado até ali. Um especialista identificou que tive um problema na tuba auditiva, provavelmente fruto de uma infecção por Covid”, contou Emma.
Também em entrevista ao Daily Mail, a presidente da Benzodiazepine Information Coalition, Nicole Lamberson, afirmou que este problema de dependência é global. Ela criou a organização internacional para alertar para os riscos de prescrição de remédios da categoria do lorazepam. “Os relatos de crises de abstinência e surtos motivados pelo uso do remédio são frequentes. Ouvimos regularmente de suicídios porque a agonia da acatisia e da abstinência de drogas era insuportável. É preciso ter isso em conta ao prescrevê-las”, contou.
New article about Emma, harmed by a benzodiazepine prescribed for tinnitus, featuring our medical director, Nicole Lamberson, PA. Despite being educated, it misuses addiction language. Nonetheless, Nicole raises awareness about akathisia and the harm. https://t.co/upX51Rpe5a
— Benzodiazepine Information Coalition (@BZInfoCoalition) April 23, 2024
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini