Um conjunto de 11 trabalhos, que foram analisados por cientistas da Universidade de Houston-Downtown, nos Estados Unidos, da Universidade Médica da China e da Universidade Médica de Nanjing, ambas na China, mostra que a prática frequente de tai chi chuan em idosos contribui para a função cerebral. Em artigo publicado na revista científica Aging & Mental Health, os pesquisadores avaliaram os efeitos da arte marcial em 905 adultos, acima dos 60 anos, que estavam começando a apresentar déficit cognitivo.
Os voluntários que praticavam tai chi chuan com frequência apresentaram melhora na função executiva – um conjunto de habilidades que envolve planejamento, organização, tomada de decisões, memória operacional, flexibilidade cognitiva e o comportamento.
O estudo também revelou melhora na memória episódica, ligada a eventos específicos, função visuoespacial (que consiste na identificação de um estímulo e sua localização) e cognição global. Um dos artigos analisados apontou ainda que a modalidade também pode aprimorar a fluência verbal.
De acordo com os especialistas ouvidos pela Agência Einstein, a frequência é muito importante para que se possa contar com todas as vantagens da atividade. Três sessões semanais, com duração de 45 a 60 minutos, cada uma, já são o suficiente para oferecer os benefícios relatados nos estudos.
Mente e corpo
Segundo a neurologista Polyana Piza, coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Hospital Israelita Albert Einstein, os movimentos suaves do tai chi exigem que a respiração seja controlada e o praticante mantenha o foco e a atenção na atividade. Isso, explica a médica, ajuda a estimular a cognição de forma suave e segura, além de trabalhar a coordenação motora, a motricidade fina, o equilíbrio e a propriocepção, que é a consciência corporal.
“O tai chi chuan combina exercícios aeróbicos moderados com foco na agilidade e mobilidade, trabalhando o corpo e a mente simultaneamente e estimulando componentes físicos, cognitivos e meditativos na mesma atividade”, diz o médico Pedro Schestatsky, neurologista funcional integrativo e presidente da Academia Brasileira de Medicina Funcional Integrativa, com pós-doutorado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Segundo o especialista, a modalidade é conhecida por influenciar positivamente a função cognitiva por meio de mudanças neurofisiológicas específicas, como o aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), responsável por regular a sobrevivência neuronal e a plasticidade do sistema nervoso periférico e central. “Isso melhora a circulação cerebral e promove o crescimento do hipocampo, área muito importante para a memória e o aprendizado, entre outros benefícios”, ressalta o neurologista.
Schestatsky explica ainda que o aspecto meditativo da prática de fato contribui para melhorar a atenção e as funções executivas e reduzir os efeitos negativos da ansiedade e da depressão sobre a cognição. Além disso, ele confirma que a aprendizagem de padrões de movimentos coreografados pode fortalecer habilidades como o processamento visuoespacial, a velocidade de processamento cerebral e a memória esporádica, conforme foi apresentado no estudo.
Interação social
Outro ponto destacado pelos especialistas é que, por ser uma atividade normalmente praticada em grupo, o tai chi chuan promove a interação social, o que é muito importante para prevenir e atenuar o declínio cognitivo associado à idade. “Tem ainda a questão da preocupação em relação ao próprio corpo e à própria imagem, que também acaba se beneficiando”, acrescenta Polyana Piza, do Einstein.
A modalidade oferece ganhos a todos os idosos, mas quem apresenta um declínio cognitivo leve conta com todos esses benefícios extras. Os que já têm um envelhecimento cognitivo muito acentuado terão menos capacidade de entendimento e execução dos movimentos, o que faz com que tirem menos proveito das aulas. Porém, elas ainda são válidas como uma terapia ocupacional, segundo os médicos.
O tai chi chuan não é a única boa opção para quem está começando a apresentar os efeitos deletérios do envelhecimento do cérebro. Segundo os especialistas ouvidos pela Agência Einstein, todas as atividades que trabalham paralelamente o corpo e a mente têm a mesma capacidade, entre elas, o pilates, a ioga e o qigong, uma prática chinesa que trabalha elementos de meditação, respiração e movimento simultaneamente.