Após 18 anos, o Ministério da Saúde registrou um caso de cólera autóctone no Brasil. Isso significa que o paciente contraiu a doença na própria cidade, sem viajar a outro lugar. Um homem foi diagnosticado com a doença em Salvador, Bahia.
A nota da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente informa que exames laboratoriais identificaram a bactéria causadora da doença (Vibrio cholerae) em um homem de 60 anos que não tinha viajado para países com ocorrência de cólera e nem tido contato com outro caso suspeito ou confirmado.
Ainda segundo a nota, trata-se de um caso isolado, tendo em vista que não houve outro registro, após a investigação realizada pelas equipes de saúde junto às pessoas que tiveram contato com o paciente. Considerando o período de transmissibilidade da doença, que, no Brasil, é de 20 dias, o homem não transmite mais o agente da cólera desde o último dia 10 de abril.
Os últimos registros autóctones de cólera no Brasil ocorreram em Pernambuco entre os anos de 2004 e 2005. Só aconteceram desde então casos vindos de outro país. Como um de Angola, notificado no Distrito Federal (2006); um proveniente da República Dominicana, em São Paulo (2011); um de Moçambique, no Rio Grande do Sul (2016); e um da Índia, no Rio Grande do Norte (2018).
Quais são os sintomas e a causa da cólera?
Cólera é uma doença infectocontagiosa aguda do intestino delgado, causada por uma enterotoxina produzida pela bactéria vibrio colérico (Vibrio cholerae). A transmissão é fecal-oral e se dá através da água e de alimentos contaminados pelas fezes ou pela manipulação de alimentos por pessoas infectadas, sejam elas sintomáticas ou não. Já foram registrados casos em que peixes, frutos do mar, como ostras e mexilhões, crus ou mal-cozidos, e gelo fabricado com água não tratada foram veículos de transmissão da doença.
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Ainda de acordo com a nota, o homem apresentou desconforto abdominal e diarreia aquosa no mês passado. Duas semanas antes, ele tinha usado antibiótico para tratar outra doença. Ele foi atendido em um hospital privado de Salvador.
A secretaria explica que, embora a maioria das pessoas não apresente sintomas (cerca de 75%), eles são dois principais: vômitos e diarreia líquida de início súbito com rápida e intensa desidratação. Não há febre.
Segundo o Ministério da Saúde, a perda de minerais no sangue desencadeia cãibras musculares e choque. Isto ocorre quando o volume de sangue baixo provoca queda na pressão arterial e na quantidade de oxigênio, situação que pode levar a pessoa à morte em questão de minutos.
Tratamento e prevenção
O tratamento da cólera, segundo a pasta da saúde, consiste em reidratar rapidamente os pacientes por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo da gravidade do caso. Em 80% das vezes, a administração de líquidos e soro já basta. Também podem ser administrados antibióticos para, entre outros motivos, diminuir a duração da diarreia.
Para se prevenir, assim como muitas outras doenças, é muito importante lavar as mãos com sabão e água limpa. Todavia, é crucial dar maior atenção à prática antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, depois de utilizar conduções públicas ou tocar superfícies que possam estar sujas. Também é importante evitar consumir alimentos crus ou mal-cozidos (principalmente frutos do mar) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
Existe vacina contra a cólera?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou uma versão nova e simplificada da vacina oral contra a cólera, o que deve ampliar o número de doses disponíveis à medida que os casos globais da doença aumentam, e países relatam escassez de imunizantes. A aplicação é produzida pela sul-coreana EuBiologics, que já tem o sinal verde da OMS para as doses Euvichol e Euvichol-Plus.
Cerca de 473 mil casos de cólera foram registrados pela OMS em 2022, o dobro do número de 2021. No ano passado, dados preliminares indicam que esse número subiu novamente para mais de 700 mil diagnósticos. Atualmente, 23 países relatam surtos da doença.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini